Essa coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista de Jorge Bezerra Lopes Chaves, professor do IBMEC.
PME NEWS – Quais as principais diferenças entre o empreendedorismo empresarial e empreendedorismo social?
Jorge Bezerra Lopes Chaves – Os dois tipos de empreendedorismo têm muito em comum, pois suas ferramentas gerenciais são semelhantes. O empreendedorismo empresarial busca resultados para atender o retorno do investimento empregado (taxa ROI), caso contrário, o projeto começa a receber menos incentivos ou é encerrado. Sua prioridade é atender por completo as necessidades de seus clientes e ampliar a potencialidade de seus negócios.
Já o empreendedorismo social tem, como prioridade, melhorar os processos de transformação social e nem sempre possuem indicadores mensuráveis e, por isso, precisam ser mais persistentes e criativos.
PME NEWS – O conceito de Empreendedorismo Social é semelhante ao de Negócio Social, defendido por Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz? Se não, quais as semelhanças e diferenças?
Jorge Bezerra Lopes Chaves São semelhantes. No empreendedorismo social, um agente identifica problemas sociais e busca alternativa e soluções, através de pessoas (físicas/jurídicas) e as implementa. O Negócio Social, desenvolvido por Muhammad Yunus, criador do Grameen Bank, em Bangladesh, visa à sustentabilidade de pequenos negócios, através de “microcréditos”, em que o “cliente” teria obrigações de repor o valor emprestado, em prazos e parcelas negociados entre as partes, como fruto do desenvolvimento de suas competências e habilidades. Repare que Yunus, mesmo vivendo num país pobre e com poucas perspectivas de desenvolvimento social, não adota o assistencialismo como meio para que uma família saia da miséria. Ele apela para o esforço individual da pessoa em não estar convencida e acomodada com aquela situação de extrema pobreza.
PME NEWS – As leis tributárias e fiscais são aplicadas de forma diferenciada para estimular o Empreendedorismo Social?
Jorge Bezerra Lopes Chaves – O incentivo às práticas sociais no Brasil está vinculado à Lei Federal Nº 9.249/1995, que possibilita as empresas tributadas pelo regime de Lucro Real a doação de 2% (dois por cento) de seu lucro operacional bruto anual para entidades que prestem serviços no campo da Ação Social.
PME NEWS – É notório que, em alguns países, o empreendedorismo social já está consolidado e que, no Brasil, ainda está engatinhando. Em sua opinião, quais as perspectivas para o setor no Brasil?
Jorge Bezerra Lopes Chaves – O cenário para as questões sociais é de crescimento, justificado pela grande demanda que a todo instante surgem à nossa frente, portanto as perspectivas são as melhores possíveis. Quanto ao fator empreender, o Brasil está amadurecendo, estimulado principalmente pelo apoio de aceleradoras junto às “startups”. Porém, para captar investidores com causas sociais, requer um esforço maior em demonstrar conhecimento e capacidade em executar o projeto e, acima de tudo, mostrar que é um bom negócio. E para isso, antes mesmo de se apresentar um bom plano ou modelo de negócios é importantíssimo saber fazer o “pitch”, ou seja, saber definir bem a forma de se vender a ideia ou projeto ao investidor. Estudos apontam que um “pitch” mal feito configura, já no primeiro ano, como um dos principais erros cometidos pelas “startups” em alavancar o negócio, dificultando ainda mais a sua continuidade. Além de contribuir para aumentar o ceticismo por parte dos investidores
PME NEWS – Qual a diferença entre o primeiro setor, segundo setor, setor 2,5 e o terceiro setor?
Jorge Bezerra Lopes Chaves
O primeiro setor é representado pelo setor público, ou seja, prefeituras, governos estaduais e presidência da república. E aplica o dinheiro público para atender a necessidade da sociedade.
O segundo setor é representado pelo setor privado, ou seja, empresas com fins lucrativos. E aplica o dinheiro captado de seus clientes para atender as suas necessidades.
O terceiro setor é representado pelo setor privado, sem fins lucrativos, como por exemplo: Organizações Não Governamentais (ONGs), entidades filantrópicas, institutos e fundações. E tem como objetivo atender causas sociais. O dinheiro provém na maioria das vezes de doações e repasse do governo.
Já o setor 2,5 é representado por organizações com fins lucrativos, e tem como objetivo, gerar impacto socioambiental (como no Terceiro Setor). O lucro é parcial ou totalmente reinvestido no próprio negócio.