Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista de Roberto Pereira.
PME NEWS – Roberto, o que vem a ser a Educação Continuada?
Roberto Pereira – A expressão Educação Continuada resume a ideia de que, para vencer os desafios de um mundo onde as mudanças e as inovações ocorrem de forma cada vez mais acelerada (Mundo VUCA – Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), e onde os principais fatores de produção passaram a ser a informação e o conhecimento, as pessoas precisam continuar a adquirir informação e conhecimento durante toda a sua existência, e não apenas no início da vida, no sistema tradicional de Ensino, que vai do Jardim da Infância até o Diploma na Faculdade. A essa exigência, decorrente da evolução e revolução da Sociedade e do Ensino, foi dado o nome de Educação Continuada.
PME NEWS – Por que, atualmente, o conceito e a prática da Educação Continuada estão em evidência? Quando isso começou? Quanto tempo isso irá durar?
Roberto Pereira – No passado, quando os fatores de produção eram o capital, a mão-de-obra (trabalho) e a terra (espaço, insumos, matéria-prima), na Sociedade Capitalista, as pessoas eram orientadas a estudar desde a infância até a juventude, com o objetivo de adquirir conhecimentos, obter um diploma de grau técnico ou superior, e passar a trabalhar numa determinada área profissional. No trabalho, algum treinamento específico era proporcionado para que a pessoa pudesse se adaptar ao ofício, mas era apenas isso. A partir da segunda metade do século XX, inicialmente nos EUA, mas depois se espalhando para a Europa e a Ásia, começou a florescer uma Sociedade Pós-Capitalista (Peter Drucker), que é também a Sociedade do Conhecimento, onde os fatores de produção são essencialmente a informação e o conhecimento. A partir desse ponto, o conceito e a prática da Educação Continuada passaram a fazer sentido e serem necessários, pois a produção de todos os bens e serviços passou a depender fortemente desses fatores de produção (informação e conhecimento). Dessa forma, surgiram, no Sistema de Ensino, cursos de média duração (pós-graduações, MBA´s, capacitação técnica e especialização) e treinamentos de curta duração (seminários, simpósios e ciclos de palestras, dentre outros), isso não apenas em escolas, mas também dentro das empresas, e isso é a Educação Continuada, que passou a ser um requisito a ser preenchido tanto pelos Trabalhadores do Conhecimento (Peter Drucker) como pelos Trabalhadores em Serviços (Peter Drucker). Esse é um caminho sem volta, as pessoas vão precisar adquirir cada vez mais informação e conhecimento, durante a vida toda, num processo de aprendizado vitalício, e essa vida será cada vez mais longeva.
PME NEWS – Quais são os principais benefícios da educação continuada para os profissionais e para as empresas?
Roberto Pereira – A Educação Continuada propicia um aumento na disseminação da informação e do conhecimento, os quais são os fatores de produção da Sociedade Pós-Capitalista, que é a Sociedade do Conhecimento. Para as empresas, investir na Educação Continuada dos seus colaboradores traz como benefícios uma melhoria significativa na produtividade e na capacidade de inovar, seja em processos, produtos ou serviços. Para os profissionais, a Educação Continuada traz como benefícios o aumento da empregabilidade, a melhoria da capacidade de comunicação, com maior repertório em conhecimentos gerais e especializados, o aperfeiçoamento do pensamento analítico e crítico, e um contínuo despertar para a criatividade e a inovação.
PME NEWS – Quais foram os maiores desafios enfrentados na educação continuada durante a pandemia e que soluções foram empregadas e devem permanecer?
Roberto Pereira – Durante a pandemia, o maior desafio da Educação Continuada foi o da paralisação temporária das aulas presenciais, seja em cursos de longa e média duração ou em treinamentos e eventos de curta duração. As soluções para esse desafio foram o emprego de técnicas de Ensino à Distância (EaD), com a utilização de plataformas digitais que permitiram a realização de aulas, palestras e reuniões de Trabalho em Grupo online, bem como a realização de atividades curriculares individuais (atividade prévia, por exemplo), com a possibilidade de interação entre os participantes e entre estes e a escola por meios digitais. O resultado desse desafio vencido foi positivo, pois muitas empresas e escolas passaram a adotar rotinas de trabalho ou ensino online, de forma que o EaD, bem como o Trabalho Remoto ou Híbrido, salvo novas tendências, devem permanecer em muitas organizações daqui para a frente.
PME NEWS – O Ministério da Educação (MEC) suspendeu a abertura de cursos e vagas de ensino a distância até 10 de março de 2025. Qual é o impacto dessa medida para a área acadêmica e profissional?
Roberto Pereira – Essa é uma interferência do MEC a qual, a meu ver, não deveria ocorrer dessa forma, com a suspensão de cursos e vagas de EaD, uma vez que a quantidade de jovens e adultos que buscam aumentar a sua capacitação vem aumentando ano após ano, num fluxo contínuo. Contudo, uma vez que existem abusos e falta de qualidade em determinados cursos na modalidade EaD, essas discrepâncias devem ser corrigidas pontualmente e amplamente divulgadas, para aperfeiçoamento do sistema como um todo. Um fato é inegável, para muitos cursos, atividades e profissões, o EaD e o Trabalho Remoto ou Híbrido serão cada vez mais presentes na vida das pessoas e das empresas, na maioria dos países, e essa é uma tendência que parece ser irreversível.
PME NEWS – Compartilhe conosco uma experiência pessoal em que a educação continuada tenha contribuído para sua carreira?
Roberto Pereira – Uma experiência pessoal marcante, onde a Educação Continuada contribuiu na minha carreira, foi após a Pós-Graduação no ITA em Eletrônica Digital e Computação, eu ter ido trabalhar como Engenheiro Eletrônico em uma empresa fabricante de Sistemas de Comunicação, e ter aceitado o desafio de rever o código-fonte, em Linguagem Assembly, do programa de controle-remoto de um Receptor de Satélite para TV. Em dois meses de trabalho a revisão foi completada e o novo código binário já estava implantado nos receptores na linha de produção. Mais adiante eu trabalhei como Gestor em 3 empresas de tecnologia, e os conhecimentos de Gestão de Equipes, bem como os Conhecimentos Técnicos, adquiridos ao longo da carreira em cursos de Pós-Graduação e MBA’s, contribuíram de forma decisiva para que eu tivesse um bom desempenho nessas funções. E foi assim também em outras oportunidades. Portanto, a Educação Continuada sempre contribuiu de forma bastante positiva para que eu fosse bem-sucedido na carreira, com um desempenho acima da média. Vivendo na Sociedade do Conhecimento, em pleno Século XXI, eu recomendo com empenho a Educação Continuada a todos os Trabalhadores do Conhecimento, e aos Trabalhadores em Serviços, que atuam em empresas de qualquer porte, sejam pequenas, médias ou grandes, bem como aos Microempreendedores Individuais (MEI’s). Eu, de minha parte, vou prosseguir na busca por novas informações e conhecimentos, por meio do aprendizado vitalício que a Educação Continuada proporciona.