Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista do CEO da VIOLARO BELLINI Consultoria RH e ESG – Tatiana Baldassa Violaro Bellini.
PME NEWS – Quais são os principais fatores que afastam a Geração Z das empresas?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – Incoerência institucional, lideranças despreparadas e culturas que ainda operam por medo. Essa geração não se engaja em ambientes com discursos inspiradores e práticas desumanas. Afastam-se de empresas que confundem cobrança com violência, metas com abuso e feedback com constrangimento. Sentem quando não são ouvidos, quando há ruído entre os valores pregados e os vividos. E isso não é excesso de sensibilidade, é consciência de integridade. O que afasta a Geração Z não é o desafio — é a falta de significado. Quando falta propósito real, segurança emocional e escuta ativa, o que existe é desligamento — mesmo com crachá.
PME NEWS – De que forma a liderança e a governança podem ajudar a atrair e reter a nova geração de profissionais?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – Assumindo que cultura é responsabilidade estratégica — e não cortesia do RH. A liderança precisa sair do modelo técnico e entrar no modelo relacional, com coerência visível e escuta real. Governança precisa institucionalizar o cuidado como critério de gestão, e não como discurso inspiracional. A geração Z se conecta com lideranças que nomeiam desconfortos e sustentam coerência mesmo sob pressão. Empresas emocionalmente possíveis não são perfeitas — são honestas, preparadas e comprometidas com vínculos duradouros. E isso começa no conselho, passa pela gestão e reverbera no time. Onde há escuta e consistência, há permanência. O resto é rotatividade disfarçada.
PME NEWS – Qual é o novo pacto que a Geração Z está propondo às empresas?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – É um pacto com a verdade institucional. Um pacto que exige que empresas deixem de tratar o emocional como bônus e o integrem como estrutura. A Geração Z quer espaços onde segurança emocional, autonomia e propósito sejam práticas — e não retórica. Está exigindo vínculo no lugar de vigilância, coerência no lugar de marketing e liderança com coragem de rever o que já não serve. Esse pacto não é tendência — é ponto de ruptura. A geração Z é apenas o início de uma mudança organizacional que vai abrir espaço para todas as que virão. Quem não se reposicionar agora será evitado depois.
PME NEWS – Como podemos transformar a cultura corporativa em critério real de contratos, parcerias e reputação?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – Cultura precisa sair do marketing e entrar no compliance. Precisa ser auditável, mensurável e visível para stakeholders. Empresas com coerência cultural retêm talentos, evitam crises reputacionais e tornam-se desejáveis em parcerias. Isso exige métricas claras, clima mapeado, relatos reais de vivência, e não apenas manuais. Organizações que ainda negligenciam cultura como critério de valor estarão fora das cadeias que priorizam ética, segurança psicológica e ESG. Em breve, reputação será validada por práticas internas — e não por slogans. E empresas com cultura tóxica, mesmo lucrativas, serão tratadas como risco. A cultura virou régua institucional. E isso é irreversível.
PME NEWS – O que seria uma auditoria de cultura vivida e como isso poderia mudar a gestão nas PMEs?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – É a verificação concreta do que se vive — e não só do que se declara. Uma auditoria de cultura vivida cruza escuta ativa, clima, dados psicossociais e percepção das pessoas para verificar a distância entre discurso e prática. Para PMEs, isso revela falhas invisíveis, reduz passivos e orienta decisões com base em realidade. É o que transforma cultura de ideal em critério de gestão. Empresas que auditem sua cultura evitam perda de talentos, aprimoram processos e constroem diferencial de reputação. Medir coerência virou necessidade — e não luxo. E a PME que fizer isso antes lidera com verdade.
PME NEWS – O que você diria para uma empresa que acredita que “isso tudo é modismo”?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – Diria que modismo é acreditar que comando-controle ainda funciona. Que tapar ouvidos à nova geração vai sustentar resultados. O mundo mudou — e já está cobrando coerência como valor de contrato. O cuidado deixou de ser discurso e passou a ser exigência regulatória (NR-1), reputacional (ESG) e jurídica (LGPD, trabalho digno). A geração Z apenas antecipou o que o sistema inteiro começou a exigir. Dizer que é modismo é negar a mudança — e escolher a irrelevância. Empresas que tratam cultura como acessório estão fora do jogo. As que integram cuidado como critério de valor estão moldando o futuro.
PME NEWS – Resuma em uma frase o que é necessário para que uma PME deixe de perder talentos e passe a construir uma reputação com longevidade?
Tatiana Baldassa Violaro Bellini – Cultura estruturada, coerência institucional e liderança com coragem de ouvir, rever e agir antes que o mercado exija.