Talento 40+: um trunfo para as PMEs

Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.

Segue a entrevista com a Ana Beatriz Tartuce.

PME NEWS – Por que ainda existe resistência em contratar profissionais 40+ em muitas empresas, especialmente nas PMEs?

Ana Beatriz Tartuce – Infelizmente, o etarismo continua sendo uma barreira enorme. Muitas vezes, o profissional 40+ é descartado antes mesmo de mostrar seu potencial. Existe o mito de que são “caros”, “resistentes à tecnologia” ou “menos adaptáveis”. Muitas PMEs, por operarem com recursos enxutos, acabam preferindo apostar em perfis mais jovens, acreditando que terão mais energia e flexibilidade. Mas, na prática, isso é um estereótipo que ignora o enorme potencial e a maturidade desses profissionais.

A maioria desses trabalhadores tem capacidade, vontade e energia para continuar contribuindo. É preciso mudar o olhar: não se trata da idade do candidato, mas do valor que ele pode gerar.

PME NEWS – Quais vantagens competitivas os profissionais 40+ trazem para pequenas e médias empresas em comparação com talentos mais jovens?

Ana Beatriz Tartuce – O profissional 40+ traz uma bagagem que nenhum treinamento oferece em curto prazo. Geralmente apresenta:

• Visão estratégica: sabe olhar além do imediato.
• Rede de contatos consolidada: que pode abrir portas de negócios.
• Gestão de crises: já viveu muitas mudanças e sabe lidar com imprevistos.
• Equilíbrio emocional: não se abala facilmente e transmite segurança.
• Capacidade de mentorar: pode apoiar gerações mais novas, acelerando o aprendizado.

Ou seja, experiência e maturidade não são peso: são ativos estratégicos que fortalecem equipes diversas.

Em geral, profissionais acima dos 50 anos têm maior disponibilidade de tempo e horários. Muitos já criaram os filhos e não têm compromissos extras, como reuniões escolares ou consultas pediátricas. Além disso, não necessitam de licenças relacionadas à maternidade ou casamento, pois já passaram por essa fase.

Outra característica marcante é a dedicação, o comprometimento e a valorização da oportunidade. Esses valores são pontos fortes da chamada geração baby boomer, formada pelos nascidos entre 1945 e 1960.

Em PMEs, onde cada decisão pesa muito, essa confiabilidade é um diferencial.

PME NEWS – De que forma a experiência contribui para inovação e decisões estratégicas nas PMEs?

Ana Beatriz Tartuce – Experiência não significa fazer “mais do mesmo”: significa saber o que já foi tentado, o que funciona e o que pode ser ajustado. O profissional 40+ tem repertório para questionar, propor melhorias e evitar erros repetitivos. Isso acelera a tomada de decisão e abre espaço para inovações mais assertivas, que unem criatividade com realismo.

PME NEWS – Como as PMEs podem promover sinergia entre gerações?

Ana Beatriz Tartuce – Para criar sinergia entre gerações em PMEs, é preciso ir além do discurso e colocar a mão na massa. As empresas podem:

1. Criar programas de mentoria: em que os mais experientes orientam os mais jovens e, na mentoria reversa, os mais novos ensinam sobre tecnologia e novas tendências.
2. Formar equipes com diversidade etária: projetos que misturam gerações estimulam a colaboração e o entendimento de diferentes perspectivas.
3. Adotar uma comunicação aberta: utilizar canais que funcionem para todas as idades, do presencial ao digital.
4. Investir em treinamentos sobre diversidade: workshops que ajudem a quebrar estereótipos e combater o preconceito etário (etarismo).
5. Celebrar as contribuições de todos: reconhecer e valorizar o trabalho de cada profissional, independentemente da idade, mostrando que experiência e inovação são igualmente importantes.

PME NEWS – Quais práticas ajudam a reter profissionais 40+ nas PMEs?

Ana Beatriz Tartuce –

• Reconhecimento da experiência e das contribuições.
• Flexibilidade (inclusive para conciliar carreira e vida pessoal).
• Oportunidades de desenvolvimento contínuo, especialmente em tecnologia.
• Planos de carreira claros, que mostrem perspectivas dentro da empresa.
• Cultura inclusiva.

Quando esses profissionais percebem valorização real, tornam-se parceiros leais de longo prazo.

PME NEWS – Em sua opinião, o mercado já reconhece os 40+ como ativos estratégicos?

Ana Beatriz Tartuce – Ainda não de forma plena. O discurso sobre diversidade etária avança, mas, na prática, o 40+ ainda enfrenta preconceitos sutis. Apesar de se falar muito sobre inclusão, o mercado de trabalho continua a ver esses profissionais com certa desconfiança. É um preconceito silencioso, perceptível especialmente em processos seletivos.

Muitas vezes, a experiência, a maturidade e a estabilidade de quem tem mais de 40 anos são deixadas de lado. O foco ainda está na juventude, vista como sinônimo de adaptabilidade e menor custo. Essa visão é, no mínimo, míope, pois ignora um capital intelectual imenso.

Por outro lado, um número crescente de empresas já percebe o valor da diversidade etária. Aquelas que buscam crescimento sustentável e resiliente estão investindo em talentos 40+, reconhecendo a mistura de gerações como um diferencial competitivo. O futuro do mercado de trabalho exige essa mudança de paradigma, e os profissionais mais experientes têm papel central nessa transformação.