Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista de Ricardo Yogui.
PME NEWS – As pessoas já nascem criativas?
Ricardo Yogui – Sim, todos nós nascemos criativos, mas o que acontece ao longo de nossa vida é que essa criatividade é meio tolhida para sermos mais lógicos, racionais e vamos nos enquadrando dentro de um padrão comum. A nossa criatividade, às vezes, fica adormecida e o que precisamos é libertá-la, já que em o mundo está cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, que gerou o acrônimo VUCA em inglês – Volatility, Uncertainty, Complexity, and Ambiguity. A criatividade ganha maior importância neste contexto e deve ser aliada à racionalidade, sendo complementares e não excludentes.
PME NEWS – Como as universidades podem contribuir para a inovação nas micro e pequena empresas?
Ricardo Yogui – Não somente nas universidades, mas também no Ensino Médio, com isso devemos fomentar a inovação e o empreendedorismo no Brasil. O país, em rankings recentes de inovação, ocupa a posição 69, incompatível com um país que é uma das 10 maiores economias do mundo.
Nesse sentido, os programas de empreendedorismo, como domínio adicional, poderiam ser transversais a qualquer curso nas universidades. Mas além de pensar como um simples domínio adicional, as universidades devem fomentar a possibilidade de criação de novas startups. Além disso, programas de inovação aberta entre universidades e pequenas empresas podem ser um caminho para uma maior intensidade nas relações entre elas e gerar novas inovações quer seja por projetos de P&DI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) ou outras frentes de inovação corporativa.
Do lado da universidade, essa relação ajudaria a preparar melhor seus alunos para os novos desafios do mercado de trabalho.
PME NEWS – Qual é a importância da inovação no desenvolvimento de micro e pequenas empresas?
Ricardo Yogui – A inovação, independentemente do porte das empresas, é essencial em um mercado cada vez mais disruptivo. A falácia que com mais recursos financeiros as empresas podem ser mais inovadoras cai por terra ao vermos startups, sem recursos com as grandes empresas, sendo a referência em várias frentes. Tomamos o exemplo dos veículos elétricos em que a grande referência é a Tesla e não uma das gigantes da indústria automobilística.
PME NEWS – Como é possível transformar uma ideia em modelo de negócios?
Ricardo Yogui – Um grande problema no Brasil não é a geração de ideias, mas sim a sua materialização em uma solução que chega de fato ao mercado. Somos bons em iniciativas, mas temos grandes desafios para a “acabativa”. Neste sentido, devemos gerar maior cultura de inovação nas organizações, afinal, a grande diferença entre invenção e inovação é exatamente a “acabativa”, ou seja, para inovar o produto final deve chegar ao mercado e ser reconhecido pelo mercado.
As PME´s já estão se capacitando para interagir com o ecossistema de inovação e usar as boas práticas como Lean Startup para diminuírem esse gap entre a ideia e a inovação de fato.
PME NEWS – O processo de inovação deve ser visto como um projeto pontual ou deve ter uma ação contínua?
Ricardo Yogui – A inovação deve ser um programa contínuo nas organizações, uma vez que a história está repleta de organizações que inovaram uma vez, pontualmente, e não conseguiram manter-se na liderança de mercado. Exemplos como Kodak, Olivetti, Blackberry, Nokia entre outras mostram que a Inovação deve ser um processo contínuo.
As organizações devem desenvolver um plano estratégico de inovação e uma das ferramentas para apoiar neste sentido é o Framework de Inovação que é um canvas para o desenvolvimento da gestão estratégica de inovação nas organizações.
PME NEWS – Por que empresas inovadoras também quebram?
Ricardo Yogui – Como comentamos anteriormente, as empresas devem pensar a inovação como um processo contínuo. Em um mundo disruptivo, rapidamente as atuais inovações podem tornar-se obsoletas em curto período de tempo. Se as organizações pensam na inovação como um instrumento tático, terão pouca chance de sobreviver. A inovação precisa ser tratada de forma estratégica e com visão de médio e longo prazo.