Por que a recuperação depois da queda é tão difícil?
Empresas que já experimentaram situações melhores e acreditam que podem retornar as situações anteriores, reconhecem que o processo de recuperação é mais demorado do que o de queda. Em economia diz que a retomada requer um trabalho de longo prazo e a recessão costuma ser violenta. O dito popular que para descer “todo santo ajuda” é verdadeiro também em assuntos relacionados ao ambiente empresarial.
Recentemente um economista fez alusão ao “cezinho” da NIKE para dizer como a processo de recuperação pós-pandemia se daria nesta forma no gráfico. De fato, a bolsa perdeu 50% do seu valor nos primeiros meses da pandemia, quando despencou de 120.000 pontos em menos de três meses e levou anos para voltar ao mesmo nível. Até hoje várias empresas afirmam que não voltaram aos níveis anteriores, mesmo sendo percebidas como bem-sucedidas.
Vários são os fatores que podem ser destacados como a razão da retomada ser tão complexa. Para muitos trata-se da superação de um tipo de “trauma” que as empresas se ressentem. Seja por razões emocionais e psicológicas onde gestores e investidores ficam com medo de enfrentar a nova realidade e suas decisões passam a ser mais cautelosas; mudando o nível de exposição a risco que tinham antes; afinal, quantas pessoas estão dispostas a ter ações em períodos de crise, quando a maioria das pessoas está correndo com suas “reservas remanescentes” para títulos de renda fixa.
Além do aspecto psicológico, na retomada administradores se deparam com uma realidade distinta da que tinham antes; observando que pode ter havido uma mudança no comportamento do seu cliente, inovações tecnológicas e mudanças na cadeia produtiva com novos fornecedores. Se perguntarmos a um dono de restaurante o que mudou nos últimos quatro anos? É bem provável que ele enumere:
i. Fatores tecnológicos como antigo sistema de caixa sendo substituído por recebimentos preferencialmente em maquininhas ou PIX, implantação de APP para pedidos em domicílio (já há vários estabelecimentos que implantaram sistemas inclusive no próprio local);
ii. Fatores comportamentais da clientela: exigência de uma maior higiene solicitando mais álcool gel, guardanapos e melhores banheiros (com acessibilidade) e mudanças no próprio cardápio com opções lights, veganas entre outras;
iii. Fatores relacionados a aquisição de seus insumos: o antigo supermercado da esquina que fornecia os hortifrutigranjeiros pode ter sido substituído por um lugar especializado que já faz as entregas padrão, o uso de descartáveis deve ter aumentado inclusive com produtos feitos sob-medida com personalização da marca.
Muitas destas mudanças já estavam ocorrendo e aconteceriam de forma gradativa, mas sem dúvida a pandemia foi um fenômeno catalizador. Mudanças geradas por “choques” costumam ser mais dolorosas do que as gradativas, às vezes gerando impactos que vão além do aspecto econômico.
Que subir uma montanha é mais difícil do que descê-la é algo notório! Podendo ser explicado pela própria física, relacionando com a força da gravidade ou com o músculo necessários para erguer a perna; mas usarei um conceito básico da matemática para ilustrar e explicar a necessidade de um esforço maior. É comum as pessoas dizerem que o mercado um dia sobe o outro cai, parecendo que: se em um período cai 10% num outro sobe 10% ficará tudo igual. Mas não é bem assim! Se uma ação valia 10 reais em um mês e no outro está valendo 9 reais, a perda de 1 real representa 10% do valor inicial, o aumento de 1 real para que volte ao patamar anterior representará 11,11% do preço que está em mercado no segundo mês.
O mesmo conceito pode ser visto em algo do dia a dia de qualquer empresa em relação a mão de obra. Imagina que uma empresa tenha 5 funcionários para fazer um determinado serviço diariamente, um destes funcionários falta por qualquer motivo e os demais funcionários precisam compensar a ausência do colega de trabalho. Note que se trata de 1/5 da mão de obra, ou seja 20 % dos funcionários; mas para atender a produção do dia anterior cada funcionário terá que se esforçar 25% a mais. Quando 5 pedreiros constroem juntos 10 m2 de parede, cada um faz 2 m2, se os mesmos 10 m2 forem feitos por 4 pedreiros, cada um terá feito 2,5 metros2, o que representa um esforço adicional da ordem de 25%.
O objetivo após uma queda de receita ou de clientela não necessariamente é voltar ao patamar anterior, há situações que ele pode e deve ser superado ou mesmo aceitar metas menos exigentes dentro de uma nova realidade do mercado. O que se buscou aqui ressaltar é que o processo de retomada exige, normalmente, um esforço maior e um período mais longo do que gestores e investidores gostariam. Paciência é algo que será exigido durante o processo para aqueles que optarem por continuar. É mais do que compreensível que boa parte dos empresários optem por mudarem o seu foco de atuação desmontando seus empreendimentos quando não possuem uma perspectiva que se sintam satisfeitos.
*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.