Entrevista concedida pelo Professor da UFRJ – FACC no curso de Ciências Contábeis, Oscar Lewandowski , ao PME NEWS, edição de Dezembro de 2025– Tema: “Restrição orçamentária nas pequenas empresa”.
PME NEWS – Professor Oscar, como definir a restrição orçamentária?
Oscar Lewandowski – De acordo com a teoria financeira, de forma resumida é a limitação que um empreendimento ou empresa tem ao executar seus investimentos. Além da análise de rentabilidade, é o fundamento básico na escolha de projetos que possam vir a ser executados. Quando estamos em sala de aula, frequentemente desconsideramos a restrição orçamentária e focamos nos métodos de seleção de projetos considerando apenas a rentabilidade esperada, o tempo e o custo de oportunidade. O pressuposto teórico de que as fontes de capital são ilimitadas é muito útil enquanto ferramenta didática, mas não está presente na realidade da maioria das empresas.
PME NEWS – E como essa restrição orçamentária se manifesta na prática, no dia a dia das empresas?
Oscar Lewandowski – A restrição orçamentária atua como um freio nas ambições e nas perspectivas dos gestores. Mas a restrição orçamentária não ocorre de modo igual no mercado. Ela se difere principalmente em função do porte de cada empresa. Empresas maiores conseguem financiamento junto a bancos e financeiras ou emitem cotas e até ações para conseguirem os recursos que desejam para implantar seus projetos. Mas além do tamanho, o histórico, a transparência e a capacidade de oferecer garantias adicionais podem determinar a acessibilidade a fontes de recursos mais vultosas.
PME NEWS – Para o caso das pequenas empresas, que ainda não têm porte para acessar o mercado, como elas podem obter recursos para continuar crescendo?
Oscar Lewandowski – Como dito antes, tamanho não é o único fator que determina a acessibilidade aos recursos. Uma vez vi uma situação onde uma empresa precisava de recursos adicionais para fazer uma aquisição e o banco não tinha como disponibilizar o valor que esta empresa relativamente média precisava. Mas uma empresa bem menor conseguia levantar com facilidade o dobro do valor naquela mesma data. Tratava-se de uma empresa no mesmo ramo e com perfil de risco bem semelhante; a diferença era que a empresa já tinha um histórico de bom pagador junto àquela instituição financeira com o crédito pré-aprovado. A empresa maior teria que passar por uma análise de crédito que impedia ela de aproveitar uma “oportunidade”.
PME NEWS – Então ter dívida é bom?
Oscar Lewandowski – Uma das máximas do mercado que parece ser contraditória: é que para ter dívida já é preciso ter tido dívida antes. É lógico que tudo tem limites! O excesso de endividamento principalmente em atividades com retornos muito voláteis pode levar a derrocada de atividades rentáveis que passam por um período de “vacas magras”. Assim o uso de empréstimos ou qualquer tipo de dívida na verdade é o acesso ao que tecnicamente chamamos de capital de terceiros. Mas trata-se de um remédio que se mal-usado transforma-se em veneno.
PME NEWS – Além do empréstimo junto a bancos, que outras alternativas uma pequena empresa pode proceder para contornar a restrição orçamentária?
Oscar Lewandowski – Cada atividade tem seu instrumento, seja financiamento público incentivado ou captação junto a instituições financeiras formais. Ao demonstrar que o investidor inicial está comprometido, seja na forma de capital próprio ou de terceiros os recursos adicionais devem aparecer; ainda que de formas inesperadas. Obviamente em alguns casos garantias adicionais serão exigidas. Ao fazer um leasing em vez de uma compra direta ou fazer aquisições com pagamentos no prazo mais longo a empresa está ampliando seus investimentos, resolvendo a questão da sua restrição orçamentária.
PME NEWS – Que dica você daria para o empreendedor evitar de transformar a captação de recursos numa fonte de problemas?
Oscar Lewandowski – A regra de bolso é sempre fazer as contas com transparência para atrair as melhores fontes de financiamento e ser cauteloso, buscando estar preparado para os cenários mais negativos.