Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista do Professor da UFRJ na FACC no curso de Ciências Contábeis, Oscar Lewandowski.
PME NEWS – Caro Professor Oscar, a seu ver, o que é fundamental em qualquer relação de negócios?
Oscar Lewandowski – Qualquer transação comercial requer um nível de confiança entre pelo menos duas partes. Uma compra, por mais simples que seja em uma loja ou bar, assume que tanto compradores como vendedores confiem que o valor acertado seja pago, bem como o produto seja o que foi ofertado ou anunciado. Note que destaquei que ao menos duas partes precisam ter credibilidade; assim, além do comprador e do vendedor, outros personagens estão envolvidos na maioria das relações comerciais; como, por exemplo, o fabricante do produto, os agentes de crédito ou financiadores e as instituições fiscalizadoras.
PME NEWS – Poderia dar ilustração de situações reais?
Oscar Lewandowski – Sim, toda compra e venda. Até quando alguém vai ao bar e compra um refrigerante há um nível de confiança assumido. Quem adquire deseja receber o produto na qualidade e quantidade ofertada; quem vende espera receber o valor anunciado. Se o refrigerante vem quente ou em quantidade inferior, a compra pode ser cancelada e, no mínimo, gerará frustração comprometendo futuras aquisições. Do lado do vendedor ele pode recusar a entrega do produto ao receber uma nota danificada ou com suspeita de falsificação, ou não aceitar algum meio de pagamento que tenha pouca credibilidade. Logo, além do vendedor e do comprador, há um nível de confiança tácito no fabricante do refrigerante, no Banco Central que emite o dinheiro ou no banco que permite o uso do cartão ou do sistema PIX. Em casos extremos a “autoridade policial” pode ser envolvida.
PME NEWS – O que acontece quando há perda de confiança generalizada?
Oscar Lewandowski – Toda a sociedade pode ser comprometida. As relações humanas exigem confiança de forma inconsciente. Países deixam de ser destinos turísticos, os residentes não se sentem comprometidos com as regras anteriores; em casos extremos há uma mudança entre atitudes voluntárias para atitudes impostas. Mas há situações menos dramáticas que surgem em função da perda de credibilidade e que são gradativamente perniciosas; por exemplo, a inflação crescente representa a perda de confiança da moeda local, onde os preços passam a ser indexados a moedas estrangeiras. Frequentemente, a evasão de investimentos e pessoas é a resposta natural daqueles que não se sentem mais seguros vivendo abaixo do padrão de confiança que antes viviam.
PME NEWS – Mas todos respondem do mesmo jeito a perda de confiança? Como funciona com os investimentos?
Oscar Lewandowski – Claro que não. Até porque a mudança no nível de confiança se dá de forma diferenciada. O medo de perda de segurança é gradual e varia muito de cada indivíduo. Pessoas que se sentem aptas a se adaptar melhor em outros lugares são as primeiras a saírem. Mas com investimentos é um pouco diferente; instalações não possuem a mesma flexibilidade. O desmonte de uma fábrica ou mesmo a venda de um imóvel de quem decide sair de uma região é a última coisa que as pessoas fazem. Às vezes, até depois que alguém já está residindo em outro país, é que ocorre a venda de sua antiga morada.
PME NEWS – Mas isto não contradiz a ideia de que o dinheiro se mexe rápido em função da sensibilidade dos investidores?
Oscar Lewandowski – Quando falamos de variação de preços dos papéis na bolsa ou de fontes de financiamento em títulos negociáveis, a velocidade como as expectativas mudam é impressionante. Independente de estas serem acertadas ou não, a tendência tende a refletir o nível de confiança existente no mercado como um todo. Mas a decisão de comprar ou vender um título líquido por parte de um investidor é mais rápida do que a decisão de expandir ou retrair do gestor da empresa. A negociação dos títulos pode até refletir a vontade de momento, mas até a execução da tomada de decisão de ativos de pouca liquidez, as expectativas podem mudar.
Portanto, tomem cuidado com o humor de momento de parte dos investidores e as expectativas reais de longo prazo daqueles que decidem a hora e como estruturar ou reestruturar suas empresas. Como existem diferentes agentes e a leitura é distinta, uma notícia ruim pode ser vista como um motivo de saída de um mercado por alguém, sendo que, ao mesmo tempo, outra pessoa veja como algo que era possível e até esperado ou no mínimo superável no longo prazo. Com isso, quem quer se desfazer de um bem é porque perdeu a credibilidade de sua valorização, por sua vez, a expectativa é a oposta para o comprador. Se não houver um mínimo de confiança, o mercado nem existirá!