Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista da Luciane de Almeida Diniz.
PME NEWS – Qual é a importância da contabilidade de gestão no desempenho organizacional?
Luciane de Almeida Diniz – Com a evolução da capacidade profissional do contador, aumentou cada vez mais o seu campo de atuação. Atualmente, o contador não pode mais ser visto apenas como o profissional dos números, e sim um profissional que agrega valor, espírito investigativo, consciência crítica e sensibilidade ética.
A contabilidade de gestão veio como se fosse uma reformulação de como o contador deve ser visto, pois ele tem papel estratégico na tomada de decisões e seu apoio é fundamental para resultados eficientes em todos os ramos de negócios.
Esse apoio deve ser amparado em números transparentes, fidedignos e em conformidade não somente com a legislação tributária como também com a nova legislação societária que segue os padrões internacionais de relatórios financeiros e colaborar com a perpetuação das organizações, tornando-se questão de consciência ética.
A contabilidade atualmente se tornou muito mais consultiva, ajudando o dirigente de uma empresa ou dono do negócio a decidir sobre quais são os rumos que a empresa vai tomar. Para isso o contador precisa ser um profissional muito bem preparado e conhecer muito bem o negócio do seu cliente ou da empresa em que ele está atuando para que seja capaz até mesmo de sinalizar quando algo não estiver indo bem dentro da empresa, para isso ele tem que ter uma visão abrangente do negócio e de todos os setores.
PME NEWS – Quais são as responsabilidades sociais de uma empresa de contabilidade?
Luciane de Almeida Diniz – Toda empresa possui sua responsabilidade social dentro da comunidade em que ela está inserida e em relação à empresa de contabilidade não é diferente. Uma boa consultoria contábil pode fazer toda diferença no desenvolvimento de uma empresa e da sociedade como um todo.
O gestor precisa tomar decisões não somente para a gestão do negócio, como também para o bem-estar da sociedade e a empresa de contabilidade tem um papel imprescindível nesse processo, precisando criar mecanismos contábeis eficazes que sejam capazes de guiar os empresários na aplicação dos mesmos para satisfazer as necessidades tanto da empresa como da sociedade.
A Responsabilidade social dessas empresas internamente não é somente para a geração de lucros, mas também de formar profissionais de qualidade, ensinando-lhes a terem ética no exercício da profissão, com princípios e valores sólidos.
O ato de proceder conforme a legislação auxilia na estabilidade social e econômica e favorece a análise de cenários futuros nos planejamentos estratégicos, respeitando a ética, diminuindo riscos e ampliando as perspectivas de engajamento em papéis sociais juntamente com perspectivas de lucro a médio e longo prazo.
A conscientização tributária é necessária para conduzir os contribuintes e é um princípio básico para que as empresas possam fazer uma boa gestão fiscal, com o profissional contábil, que, por sua vez, é o elo entre o fisco e o contribuinte. Existem também ferramentas para demonstrar as atividades das empresas em relação a seus funcionários, à comunidade e ao meio ambiente, que é o chamado Balanço Social.
A responsabilidade social é o cumprimento com seriedade da relação contratual entre o profissional, o cliente e a sociedade.
PME NEWS – Quais são os grandes desafios enfrentados pelo setor contábil?
Luciane de Almeida Diniz – Infelizmente eles ainda são muitos. O contador tem sempre que oferecer um diferencial, adaptar-se às mudanças constantes, manter-se atualizado com as mudanças frequentes de legislação, adequar-se aos diferentes prazos, aumento das obrigações acessórias digitais a serem entregues, ocasionando sobrecarga de trabalho, consequentemente aumento de custos operacionais.
Ainda existem grandes empresas que encaram o departamento Contábil como aquele setor que não traz receita, mas somente despesa, que só representa custo para a empresa.
Para a pequena empresa ainda é encarado como o mal necessário para que a empresa possa pagar sua folha de pagamento e seus impostos, pois o pequeno empreendedor ainda não tem a visão correta da importância de se ter um contador. Alguns deles não sabem sequer a importância de um balancete, quanto mais das demonstrações financeiras como um todo. Infelizmente nem todos estão dispostos a aprender por mais que expliquemos a importância destes para o negócio dele. O pequeno empreendedor ainda está gerindo seu negócio somente através da gestão financeira do mesmo, se tem dinheiro em caixa ou não para pagar, comprar, etc. Esquecendo-se de que existem despesas incorridas que são aquelas que precisam ser registradas mesmo sem terem sido pagas, consequentemente isso afetará o lucro a ser distribuído entre os sócios.
Atualmente até o MEI – Microempreendedor Individual – precisa de um contador, ainda que seja somente para uma consultoria, mesmo que não possua funcionário.
O setor contábil está vivendo um momento de transição, onde várias empresas já reconhecem a importância que tem o contador para o seu negócio, mas ainda existem tantas outras que ainda não o reconhecem, por isso é necessário haver realmente uma mudança de cultura a esse respeito.
PME NEWS – Por que é preciso uma Reforma Tributária no Brasil?
Luciane de Almeida Diniz – Ainda há muito a ser feito para termos uma verdadeira Reforma Tributária no Brasil. Pelo menos agora estamos começando a levar mais em consideração esse assunto, pois é preciso mexer no nosso sistema tributário por ser muito ineficiente, atrapalha o desenvolvimento econômico, prejudica o ambiente de negócios e impacta o dia a dia dos cidadãos.
O nosso país possui um sistema tributário extremamente complexo em que a União, os Estados e Municípios legislam, criando leis próprias para regulamentar a tributação no país. Além disso a regulação muda constantemente o que agrava ainda mais a situação. O excesso de leis e regras sobre o assunto aumenta os custos, com a existência de inúmeras alíquotas de diferentes impostos, assim como muitos tratamentos diferenciados, os quais são concedidos a determinados bens e/ou empresas específicas por meio de benefícios fiscais.
No Brasil são cobrados tributos de diferentes formas, sobre a renda, o trabalho, o patrimônio e o consumo. A tributação sobre o consumo que é aplicada às mercadorias é complexa e ineficiente, cria distorções na economia e aumenta ainda mais as desigualdades. Com pouquíssima transparência, os cidadãos não sabem o quanto pagam de impostos no produto que adquirem, fazendo também com que as pessoas mais pobres paguem o mesmo imposto que as pessoas mais ricas. No caso da pessoa física deveriam também aumentar a faixa de isenção de imposto e aumentar a faixa de tributação para os que ganham mais.
Precisamos de um modelo tributário mais simples, amplo e mais justo e que a população tenha o devido retorno dos impostos pagos com educação, saúde e serviço público de qualidade.
PME NEWS – Qual o impacto da reforma tributária para as empresas?
Luciane de Almeida Diniz – A ideia de uma Reforma Tributária é diminuir pelo menos parte da carga tributária, seja ela feita de forma gradual ou não, mesmo que venham a unir impostos e/ou contribuições sociais já existentes em um só, é preciso haver a redução efetiva da alíquota.
Essa redução não somente deve ser feita no nível federal, mas no nível estadual também. Alguns estados possuem alíquota de ICMS bem mais altas que outros e este é um imposto que impacta tremendamente o valor do produto para o consumidor final.
Com uma redução de impostos, o lucro das empresas aumentaria, favorecendo o reinvestimento nelas. Obviamente que uma empresa mais lucrativa tende a se fortalecer no mercado, o que pode aumentar a robustez em longo prazo, como também leva a um pagamento proporcionalmente maior aos investidores.
A reforma precisa impactar de forma positiva todos os segmentos de negócios e com diferentes tipos de tributação, para que as micro e pequenas empresas com faturamento de até R$ 4.800 milhões tributadas pelo Simples Nacional, não considerem uma opção de tributação desvantajosa no caso de uma reforma. Deve haver equidade no imposto de renda de pessoa jurídica para evitar que grandes empresas paguem menos impostos que pequenas e médias pelo uso de diferentes regimes fiscais.
PME NEWS – Qual o impacto da reforma tributária para os acionistas?
Luciane de Almeida Diniz – No caso do Brasil, as duas formas mais utilizadas para remunerar os acionistas são os dividendos que correspondem a uma parcela do lucro das empresas que é distribuída aos acionistas e é proporcional à quantidade e ao tipo de ações que o acionista possui, sendo estes distribuídos para os acionistas e investidores livres de impostos desde 1996, pois os tributos sobre o lucro recaem sobre a empresa.
E os Juros sobre Capital Próprio (JCP), que é uma outra forma de pagamento aos investidores e remuneração a acionistas, atualmente são considerados despesa dedutível da empresa e, como tal, devem ser descontados na apuração do IRPJ e da CSLL.
Caso haja algum tipo de tributação sobre os dividendos assim como os JCP deixarem de ser dedutíveis, poderia inibir novos investimentos por parte dos investidores até mesmo do exterior. Tributar os dividendos poderia tornar a bolsa de valores menos atrativa, além de motivar empresas estrangeiras a enviarem os lucros gerados no Brasil para suas matrizes.
Uma outra preocupação seria que para escapar de uma tributação sobre lucros e dividendos, as empresas podem até mesmo recorrer ao artifício da distribuição disfarçada de lucros. As empresas que distribuem bastante dividendos podem passar a dar outros benefícios aos acionistas, como bonificações ou até fazer programas de recompras de ações no longo prazo próprias para compensar a tributação dos dividendos em si.
As empresas que efetuam pagamento de dividendos já possuem uma série de tributos que estão embutidos na atividade que exercem. Logo, entendo que seria prejudicial uma tributação à remuneração aos investidores.
PME NEWS – Qual é o futuro das empresas de contabilidade?
Luciane de Almeida Diniz – Com o passar dos últimos anos o contador vem tendo uma importância cada vez maior para as empresas como um todo, tanto para grandes, médias e pequenas empresas. Assumindo responsabilidades bem maiores e respondendo como se sócio fosse de seus clientes, pois a parte operacional da contabilidade, ou seja, as tarefas repetitivas, um bom software contábil atualmente faz sem problemas. O contador do futuro é antenado, tecnológico e estratégico, assumindo um papel dinâmico e intelectual.
A contabilidade tornou-se uma forma de Gestão efetiva para a tomada de decisão do dono do negócio, fazendo com que o Contador seja muito mais consultivo do que operacional. Esse tipo de postura é cada vez mais valorizada pelos clientes, pois entrega um maior valor aos serviços que são prestados pelo escritório.
Cada vez mais o governo brasileiro tem criado obrigações acessórias digitais com tal grau de complexidade que já existem softwares de auditoria digital para se ter certeza de que os dados nas declarações estejam corretos e sem divergências, evitando multas pesadas para seus clientes.
Infelizmente muitos escritórios de contabilidade existentes não estão se adequando a essa nova realidade, com isso vão ficando atrasados e estagnados, podendo sofrer até mesmo a extinção. Torna-se mandatório que o profissional tenha treinamento constante, acesso a muito mais informação, especialização em diferentes áreas de atuação, adequação à tecnologia, utilizando-se de todos os recursos a seu favor para criar um diferencial para o seu cliente. Podendo agir de forma rápida, caso algo não saia conforme o esperado, evitando, assim, prejuízos e custos extras na operação.