Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista de Ane Maria Blank.
PME NEWS – A Educação Financeira é restrita ao cenário empresarial?
Ane Maria Blank – Falar sobre organização financeira para muitos pode significar que é algo que só diz respeito ao cenário empresarial. Que só precisa se preocupar com as finanças alguém que tenha um negócio ou que seja empreendedor. Mas não é assim.
A maneira como você, pessoa, faz as suas escolhas e como se comporta quanto às finanças terão reflexo na sua vida financeira. Ou seja, como você age nas finanças pessoais refletirá nas finanças do seu negócio.
Assim como muitos pequenos empreendedores ainda fazem, eu misturava minha conta pessoal com a jurídica, pensava que como estava tudo bem não tinha problema. Mas, quando resolvi separar as contas, observei o quanto eu precisava realizar mudanças. Entendi que meu faturamento precisava melhorar, diminuir custos e entender mais sobre finanças.
Ao longo da minha caminhada profissional, cruzei com muitas pequenas empresas em que o financeiro era uma dor nas suas jornadas.
Hoje, eu entendo que muito mais que montar planilhas e controles, é preciso entender das escolhas e dos comportamentos, e do relacionamento pessoal do empreendedor com o dinheiro. A Educação Financeira é o que ajuda nisso, além de autoconhecimento.
PME NEWS – Como a organização, o bom planejamento impacta nos resultados?
Ane Maria Blank – Muitos são aqueles que ainda, infelizmente, acreditam que investir tempo em planejamento seja um desperdício de tempo e de esforço.
Mas um bom planejamento, seja ele de minutos ou de horas, pode nos levar a ganhar horas ou dias. E isso se aplica ao planejamento financeiro.
Mas, para planejar as finanças, é preciso ter sonhos, ter objetivos claros. Então você pergunta, sonhos? Como assim? Estamos falando de negócios eu sei, mas como já mencionei, antes de tudo somos pessoas, e são as pessoas que se relacionam com o dinheiro, são suas crenças e atitudes que geram resultados.
Quando eu sonho, eu o transformo em objetivo e para entrar em ação eu planejo o que preciso fazer para realizar. Isso como pessoa. Quando falamos em negócio, esse sonho é chamado de Visão do Negócio, e baseado nele criamos objetivos para as diversas áreas da empresa. Para realizar estes objetivos criamos as ações. Ou seja, tanto como pessoa ou como empreendedor, o caminho é o mesmo. Faz sentido?
PME NEWS – A gestão nas pequenas empresas está mais madura. A que se deve esse fato?
Ane Maria Blank – Acredito sim que as pequenas empresas estão mais maduras. Estão mais abertas e em busca de conhecimento, em entender sobre gestão, melhorar a produtividade, preparar a mão de obra.
As pequenas empresas por um bom tempo foram vistas, ou melhor, não foram vistas. Sofriam uma concorrência injusta com empresas de maior porte em negócios. A causa era porque não tinham preço para concorrer, ou estrutura adequada para atender as demandas solicitadas, ou não tinham qualidade suficiente. Sem gestão adequada seja na parte administrativa como na produtiva.
Todos esses fatores levaram os pequenos empreendedores a buscarem melhorias de processos, de gestão, nas finanças, em vendas, ou seja, melhoria total do negócio. Ao mesmo tempo em que desenvolveu no próprio mercado externo a criação de negócios voltados às pequenas empresas quanto à estrutura, conhecimento, oportunidades, novas leis etc.
Com todo esse movimento, não amadurecer era inevitável, não acha?
Conhecimento e transformação, conhecimento e transformação, simples assim!
PME NEWS – Quais ferramentas são importantes no apoio para se ter um planejamento de sucesso?
Ane Maria Blank – Quando temos claro para onde queremos ir, fica muito mais fácil levantar o que pode dar errado e criar ações assertivas para um planejamento de sucesso, sintonizado com a visão da necessidade dos clientes e do negócio em si.
Hoje, ter uma gestão eficiente pede o uso de tecnologias integradas, que facilitem saber as informações e os números com mais agilidade e eficiência. Mas, de nada adianta você ter um bom sistema, equipamentos adequados e outras ferramentas de produtividade se não tiver a mão de obra preparada e treinada e uma liderança que esteja em sintonia com o negócio e com a sua equipe.
Preparar a mão de obra com treinamentos constantes, ter uma liderança humanizada e criativa e que entende do negócio, ter equipamentos e tecnologia adequada, é um mundo ideal, não é?
Mas, além desse cenário não ser uma realidade, sempre existirão dificuldades e desafios. Máquinas e equipamentos podem quebrar ou parar, pessoas podem gerar conflitos, falta de treinamento adequado, lideranças que não conseguem administrar essas situações.
Uma solução recomendável seria, então, desenvolver as pessoas chaves no negócio. Desenvolver seus pontos fortes, preencher as lacunas existentes e criar estratégias para o desenvolvimento de ações para mudar o cenário. E é nisso que os processos de Coaching e Mentoria entram para auxiliar e desenvolver os líderes e pessoas chaves, para não dizer também os próprios empresários. Todas essas pessoas são as que influenciam no clima organizacional do negócio, se eles se desenvolvem, entendem melhor do outro e assim se possibilita melhor de cada liderado e colaborador.
PME NEWS – Quais os desafios encontrados, principalmente pelas pequenas empresas, diante de situações como a da pandemia?
Ane Maria Blank – Creio que os maiores desafios que pequenas empresas possam ter encontrado neste momento de pandemia sejam a falta de caixa para manter o negócio andando, o não estar preparado para o uso do mundo online, a falta de gestão de pessoas e o não estar preparado para um momento como esse.
O maior desafio, creio eu, tenha sido para as pequenas empresas que não tinham caixa para bancar o período de fechamento que passamos por conta da pandemia, com isso o faturamento caiu, as vendas reduziram em muitos setores com a falta de produção.
Algumas empresas talvez já estivessem com dificuldades financeiras, com a pandemia isso acentuou. Talvez tenham tido de demitir e buscar crédito; algumas conseguiram e outras não. Algumas empresas fecharam, outras estão tentando manter-se vivas.
Este momento permite que as empresas se reinventem e/ou inovem mais uma vez. Descobrir novas formas de vender, agilizar a produção, entrar para o mundo online, preparar-se melhor para um momento de crise como a pandemia etc. Mas isso é apenas para aquelas que se permitirem isso.
PME NEWS – Qual setor de uma empresa necessita de maior apoio da gestão?
Ane Maria Blank – Na minha opinião todos os setores são importantes e necessitam de apoio. Mas acredito que o setor de Gestão de Pessoas é onde se deve dar valor e apoio com mais intensidade. É por ele que passam todas as pessoas da empresa. Lida com os conflitos, resolve situações entre líderes e liderados, contrata e dispensa.
Mas nenhum é mais importante que o outro. Um setor não anda sem o outro, quando se tem esse entendimento entre as pessoas que trabalham na empresa, tudo flui, há mais sinergia, e as situações acontecem ao invés de serem empurradas.
E tudo isso implica em preparar a mão de obra, ter ferramentas de gestão adequadas, sistema de informação, capital de giro, líderes preparados e empreendedores com visão holística do negócio.
PME NEWS – Que dicas você dá ao MEI e ao pequeno empresário, que vêm adotando um modelo de gestão, mas que não está surtindo o efeito esperado?
Ane Maria Blank – Se o modelo de gestão não está surtindo o efeito esperado é porque ou não está adequado às pessoas e à organização ou não foi implementado de forma adequada, sem treinamento ou ferramentas necessárias.
Às vezes o empreendedor implementou um modelo de gestão que lhe trazia uma visão e no dia a dia não correspondeu às expectativas e isso lhe frustra, desanima e acaba levando aos seus líderes um desconforto e assim por diante.
Ok. Então vou descartá-lo e jogar fora então? Sugiro que não, até porque houve um investimento no processo. O ideal é que procure um especialista que lhe auxilie na avaliação e/ou diagnóstico do que realmente está acontecendo. Feito isso, saberá onde mexer para que os resultados esperados comecem a acontecer. Algo está desconexo e é preciso ser entendido e conectado. Podem ser ferramentas, pessoas ou sistemas já existentes ou ausentes ou mal utilizados. Buscar esse especialista pode fazer toda a diferença para se ver o que não está visível.