Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista de David Feffer, Presidente do Grupo Suzano.
PME NEWS – Que fatores contribuíram para o bom desempenho do setor de papel e celulose em plena crise?
David Feffer – Os impactos do atual cenário econômico são diferentes para cada um destes produtos. A celulose é um produto de preços globais e os principais mercados consumidores são América do Norte, Ásia e Europa, ou seja, depende intensamente da demanda internacional. Já o mercado de papel é regional e carrega forte correlação com a economia local.
A desvalorização cambial dos últimos dois anos tem favorecido as exportações, o que impacta diretamente o desempenho em celulose. No 1º trimestre deste ano, a Suzano vendeu 906 mil toneladas de celulose, recorde histórico, que representou um aumento de 22% na comparação com o trimestre anterior e de 6% na comparação com o 1º trimestre de 2015.
Já no mercado de papel, dados publicados pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) indicam que a demanda brasileira de papéis de Imprimir & Escrever e Papelcartão (venda da indústria doméstica + importações) apresentou retração de 6% no primeiro semestre do ano, em comparação com igual período de 2015. Porém, quando abrimos este dado, notamos uma redução do volume de papel importado em 36% e um incremento nas vendas dos produtores domésticos em 2%.
PME NEWS – Quais desafios que a Suzano enfrenta para promover o desenvolvimento sustentável?
David Feffer – O objetivo é sermos competitivos ao mesmo tempo em que incentivamos o empreendedorismo e a inovação. Constantemente avaliamos novas maneiras de conduzir processos e procedimentos, priorizando iniciativas de baixo impacto e benefícios ambientais, assim como ações mitigatórias.
Temos como lema sermos fortes em nossos negócios e valores e gentis no relacionamento com nossos stakeholders (partes interessadas), com base num processo de escuta amplo e empático, na comunicação aberta, transparente e objetiva, construindo relações de qualidade que sobrevivam aos percalços do caminho.
Um exemplo disso está no nosso relacionamento com as comunidades do entorno das operações da Suzano. Substituímos a estratégia de simplesmente atender às demandas locais por um modelo participativo que inclui a criação gradativa de conselhos comunitários, dos quais não somos parte majoritária. A iniciativa faz com que essas microssociedades sejam efetivamente sustentáveis por meio de atividades geradoras de renda e que melhoram a vida das pessoas.
PME NEWS – Empresas de sucesso já fracassaram pelo menos uma vez. Qual a importância do fracasso para o sucesso?
David Feffer – O empreendedor brasileiro tende a ficar com um estigma de fracassado quando uma iniciativa não tem o sucesso esperado. A maior lição que os empreendedores devem tirar de um fracasso é que, mesmo perdendo com seus erros, ele, na verdade, está ganhando conhecimento e experiência para melhorar seu negócio. O importante é o erro não ser fatal para o empreendimento.
PME NEWS – A Suzano investe bastante em inovação. Que ações inovadoras praticadas pela Suzano podem ser adaptadas às pequenas empresas, independente do seu segmento?
David Feffer – Uma forma de gerar inovação que utilizamos na Suzano e que pode ser adaptada por qualquer empresa é de ter pessoas de qualidade na equipe em permanente desafio. Daí surge a inovação. Eu também costumo dizer que é preciso “manter um olho no peixe e outro no gato”, manter a “roda girando”, mas, ao mesmo tempo, afastar-se um pouco do dia a dia para ver o que o mundo está produzindo em inovação. Olhar para frente, para o que vem a seguir, inclusive buscando inovação em segmentos diferentes da sua área de atuação que podem inspirar o seu negócio.
PME NEWS – Qual o momento certo para empreender?
David Feffer – Não existe momento certo ou perfeito, o que existe é uma conjunção de fatores: você estar sempre olhando adiante, para o que está por vir; perceber e aproveitar as janelas de oportunidade; e estar disposto a correr riscos.
PME NEWS – Que fatores são importantes para o empreendedorismo alavancar de vez no Brasil?
David Feffer – Precisamos vencer barreiras burocráticas e culturais. É importante que aconteça uma mudança de cultura para estimular o empreendedor a correr riscos e aceitar as imperfeições e erros como parte do processo, por exemplo. Se o primeiro negócio não funcionou ou não deu certo, conserta, tenta de novo. Se funcionar, otimiza. Precisamos estimular o empreendedorismo no Brasil e isso envolve o alinhamento entre discurso e prática. Estive recentemente no Vale do Silício e percebi o quanto as pessoas têm condições ideais para empreender naquele ambiente, desde as regulatórias até as culturais, incluindo o valor que se dá ao erro como um processo para o acerto e o sucesso de seu produto e/ou negócio.
PME NEWS – Qual mensagem o senhor daria ao empreendedor que está começando agora?
David Feffer
Duas dicas:
1. Um empreendimento exige propósito. É preciso ter paixão e amor pelo que se faz. Ao mesmo tempo, é necessário buscar os resultados com racionalidade. O equilíbrio da emoção com a razão será o sucesso de uma empresa;
2. É importante entender que mesmo em cenários desafiadores, sempre há espaço para novas oportunidades.