Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista da consultora Sandra Regina da Luz Inácio.
PME NEWS – Quais são as vantagens e desvantagens da gestão familiar nas empresas?
Sandra Regina da Luz Inácio
Vantagens:
- Vínculos emocionais intensos por causa das ligações familiares.
- As empresas familiares têm uma cultura mais humana. Muitas vezes, é comum os funcionários sentirem-se como um membro da família, chegando a uma maior afinidade com os objetivos da empresa.
- Investimentos de longo prazo, devido à liderança com mandato longo e estável.
- Lealdade por tradição a produtos, tecnologias e localização.
Desvantagens:
- O nepotismo que impera na Empresa Familiar, pois muitas vezes estes parentes não têm a competência necessária para ocuparem cargos de liderança ou confiança. Estão lá pelo grau de parentesco e não pelo desempenho.
- A gestão emocional, na qual conflitos familiares sempre existem com algumas rivalidades entre os membros familiares, possíveis discussões e rupturas que surtem efeitos nos negócios e até cisões empresariais.
- As empresas familiares encaram os mesmos desafios enfrentados por qualquer outra empresa não familiar, mas, devido à cultura, reduz a capacidade de redefinir a estratégia empresarial para atender a grandes mudanças nas condições de mercado.
PME NEWS – Como combater problemas típicos das empresas familiares?
Sandra Regina da Luz Inácio
- Iniciar o quanto antes o processo sucessório, profissionalizar a empresa, criando um conselho de administração, e deve ser iniciado com a participação do fundador (criar uma consciência societária entre os herdeiros).
- Desenvolver um clima de diálogo para tratar dos conflitos já existentes e dos que podem acontecer.
- Separar claramente os conceitos de: família, propriedade e empresa. Não é apenas pelo fato de pertencer à família proprietária do negócio que o indivíduo é capaz de gerir a empresa.
- Conscientize os herdeiros de que eles não vão ganhar uma herança de família, mas uma empresa composta por pessoas que dependem de uma gestão eficaz e que deles dependem muitas outras vidas.
PME NEWS – Como e quando deve ser feita a transição da gestão nas empresas familiares?
Sandra Regina da Luz Inácio – O quanto antes começar será melhor. Deve ser feita, escolhendo um ou mais líderes para a sucessão; decidindo o momento mais oportuno para efetuar a transição da administração e da propriedade abrindo mão do poder e, principalmente, gerenciar esta transição.
Ajudar a família a fixar uma direção e manter sua determinação e coesão.
Manter a disciplina familiar em relação ao negócio e proteger contra interferência da família no mesmo.
Formar acionistas leais, bem informados e capazes, e membros da família que possam contribuir para o negócio e para a família.
Ter critérios para selecionar sucessores:
- Competência administrativa.
- Habilidade de liderança.
- Experiência.
- Valores condizentes com os da empresa.
- Relações com as várias partes interessadas.
- Representatividade na empresa.
- Ser a imagem da empresa.
PME NEWS – Como proceder, caso a próxima geração não tenha interesse em dar continuidade ao negócio da família?
Sandra Regina da Luz Inácio – No caso em que o sucessor não seja alguém da família, em primeiro lugar, os familiares precisam estar muito preparados como acionistas e membros do conselho para estar ao lado de um terceiro exercendo uma função estratégica, como uma presidência. Isso é o que acontece na profissionalização da gestão, em que a família assume papel de investidor, de dono, e precisa se preparar para isso. De qualquer forma, os familiares devem estar diretamente envolvidos nas decisões através do conselho de administração. Em último caso, pode-se vender a empresa.
PME NEWS – Qual o futuro das empresas familiares?
Sandra Regina da Luz Inácio – Se forem profissionalizadas, terão um futuro brilhante.
Das maiores empresas do mundo, 35% delas são familiar. Vale lembrar que muitas multinacionais são empresas familiares. Portanto, acredito que a empresa familiar se adaptará às mudanças econômicas que vierem com a globalização, porque tem vantagens naturais sobre as demais empresas.
As empresas familiares no estágio de seu fundador são 19% mais valiosas do que empresas não-familiares.
As empresas familiares apresentam: retorno anual para os acionistas, aumento anual do faturamento, aumento das receitas e retorno sobre os ativos maiores que o de empresas não-familiares.
As empresas familiares empregam de 50% a 60% da força de trabalho em países industrializados. As empresas sob controle familiar foram 5,5% mais lucrativas e tiveram um retorno sobre os ativos 6,65% maior do que empresas não-familiares.
Empresas dirigidas por famílias têm cotação 10% maior no mercado de ações do que empresas não-familiares.