Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista de Carla Béck.
PME NEWS – Quais são as características de um líder?
Carla Béck – Para abordar essa questão, primeiramente vamos entender o que é um líder com alto grau de desempenho. É aquele que influencia as pessoas pela liberação do seu poder e potencial para impactar positivamente tanto no desenvolvimento de pessoas (colaboradores e clientes) quanto na obtenção de resultados. Então, liderar é um processo em que se obtêm resultados ao mesmo tempo em que tratamos as pessoas com respeito, consideração e justiça.
Destaco, abaixo, algumas características:
- Capacidade para liderar
- Investir nas pessoas (dar chances às pessoas talentosas)
- Incentivar a cultura da Meritocracia (valorização do desempenho)
- Caráter
- Responsabilidade
- Maturidade emocional
- Bom relacionamento interpessoal
- Comunicar-se adequadamente
- Coerência entre o seu discurso e sua ação e influência.
Saliento que a liderança não se restringe ao âmbito organizacional.
PME NEWS – A liderança é um dom ou precisa ser desenvolvida?
Carla Béck – A liderança precisa ser desenvolvida, independente de ser nata ou não. A liderança está associada às experiências, à vivência de cada líder, das suas escolhas, dos seus princípios, das suas relações, da sua construção enquanto sujeito, dos seus aprendizados, dos seus erros, dos seus acertos, enfim, de toda a sua jornada.
PME NEWS – Como obter o comprometimento de uma equipe?
Carla Béck – O principal fator que influencia no comprometimento de uma equipe é a coerência do seu líder, ou seja, coerência entre discurso e prática. Um líder influencia as pessoas, provoca nelas o desejo de o seguirem ou não. Nesse caso, quem deseja obter o comprometimento da sua equipe deve estar comprometido com ela, desejar verdadeiramente que a mesma possa se desenvolver, crescer e ter sucesso, que possa estar apoiada pelo mesmo em todos os momentos.
Em pesquisa realizada pela Infinita EPH em parceria com a consultora Silmara Ribeiro, em 2013, sobre esse tema, 68% dos participantes informaram que o comprometimento dos liderados era afetado pela incoerência do líder. Em linhas gerais, identificamos que o posicionamento do líder incoerente com suas práticas, como, por exemplo, aquele que usa o velho jargão, “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”, compromete a produtividade de sua equipe, bem como a imagem que os colaboradores têm dos líderes da organização.
Através de práticas equivocadas dos líderes, percebemos que os colaboradores ficam vulneráveis e tendem a reproduzir comportamentos descompromissados com a organização e, por conseguinte, com a sua própria carreira profissional.
Qualquer líder que deseje o sucesso precisa buscar incansavelmente a excelência em tudo o que faz. Deve possuir um propósito mais elevado, de buscar a realização, de conquistar a satisfação com o que faz e, com isso, inspirar os seus liderados a seguirem o seu exemplo.
PME NEWS – A participação das mulheres nos cargos de liderança nas empresas vem crescendo nos últimos anos. Quais principais fatores contribuem para isso?
Carla Béck – Desde a década de 70, no Brasil, a mulher percebeu a necessidade de aumentar a sua qualificação a fim de concorrer de forma mais homogênea com os homens. E buscou seu aperfeiçoamento curricular, novas profissões, com o objetivo de ascender profissionalmente. Estudos comprovam que outros fatores contribuíram para ascensão das mulheres, como, por exemplo, suportar melhor as pressões, ter poder de comunicação e intuição mais desenvolvidas, além de serem mais ágeis e dedicadas.
A estatística, porém, revela que a desigualdade salarial entre homens e mulheres não mudou muito. Uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a média de mulheres em cargos de chefia no Brasil é de 5%. Há setores, porém, com maior participação, como, por exemplo, a construção civil e transporte, nos quais os percentuais dobram e ultrapassam 10%. O interessante é que é justamente na construção civil em que o salário da mulher com cargo de chefia representa apenas 37% do salário do homem que ocupa o mesmo cargo. Já em outros setores, que tradicionalmente as mulheres dominam, como educação e saúde, o salário das mulheres, nos cargos de liderança, representa 60% do salário dos homens. Assim mesmo, muito baixo.