Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista de Tania Zagury.
PME NEWS – Em seu livro “Limites sem trauma, construindo cidadãos” é interessante a forma como você aborda os limites na educação. Fazendo uma analogia às empresas, como é possível o gestor trabalhar dentro do limite, sem trauma, construindo equipes?
Tania Zagury- O gestor pode seguir a orientação que apresento em meu livro, sobre como ensinar limites, adaptando à situação empresarial, porque a questão é hoje prioritária em muitas instituições. Vivemos numa sociedade cada vez mais competitiva; por outro lado, percebe-se crescente descompromisso dos empregados em relação à empresa. Somados esses dois, fica fácil perceber que estamos lidando com ambientes passíveis de se tornarem palco de seguidos conflitos. Por isso compreender que dar limites, de forma segura, equilibrada e sem agressões, é essencial para que toda a equipe incorpore e respeite os limites de cada colega, bem como o seu próprio. Equipes saudáveis deveriam tornar esses princípios a base do entendimento e da produtividade.
PME NEWS – É comum haver problemas de insubordinação nas empresas. Que fatores contribuem para isso? E como os gestores devem agir nesses casos?
Tania Zagury- Profissionais que pertencem às gerações X e Y esperam encontrar gestores que não usem a autoridade como base do relacionamento; essa expectativa reflete, entre outros fatores, o fenômeno que abordei em vários dos meus livros: quem começou a educar em torno dos anos 1970 inaugurou um modelo em que praticamente se aboliu a hierarquia. Não é de admirar que esses jovens, que são parte dos profissionais de hoje, esperem encontrar o mesmo relacionamento horizontalizado a que estão acostumados, no trabalho. Acham que não há diferença entre quem começa e quem está finalizando a carreira, em quem tem mais currículo, mais experiência ou está num cargo mais elevado – o que não obrigatoriamente é verdade, mas eles pensam desta forma. É o grande desafio dos gestores do séc. XXI: equilibrar a necessidade de alcançar metas – quase que só na base do diálogo, o que realmente não é nada fácil – com as pressões que, por sua vez, sofrem dos seus superiores. A incorporação dos limites individuais e grupais pode ajudar bastante nesse âmbito.
PME NEWS – Por que as empresas que aplicam a “Avaliação de Desempenho”, em sua maioria, usam como um dos critérios a premiação ao funcionário que não se atrasa? A avaliação está relacionada à limite, porém, pontualidade deveria estar relacionada à premiação?
Tania Zagury- De fato, a pontualidade é um valor bastante acatado. Ocorre que quanto maior a empresa mais difícil é administrar os “quereres e as idiossincrasias” de cada um. Por essa razão, muitas firmas não podem abrir mão deste elemento. Evidentemente o administrador eficaz, ao avaliar visando, por exemplo, à promoção ou premiação, deve valorizar também outros elementos – como a capacidade de resolução de problemas e a eficiência, por exemplo. Empresas modernas, especialmente as que têm um corpo de trabalho eminentemente jovem, vêm tentando deixar a cargo de cada um a gestão dos horários, desde que os objetivos pactuados sejam alcançados num determinado dia-limite, o que costuma agradar aos mais jovens. Embora não deixe de ser também um limite, torna-se mais palatável para eles.
PME NEWS – O trabalho sob pressão, tanto no topo da pirâmide hierárquica como na base, prejudica o relacionamento e a produtividade. Como minimizar as consequências, supondo que as causas sejam inevitáveis?
Tania Zagury- É aí que entra a competência do administrador. A pressão não excessiva geralmente não é negativa. Há pessoas que muito pressionadas pouco produzem, assim como há quem só produza “empurrado”. A liderança positiva é a que sabe distinguir quanto se precisa pressionar para que cada um alcance o ótimo que cada instituição almeja; havendo equilíbrio, não traz consequências negativas. É Limites sem Trauma, mesmo!
PME NEWS – Delegar tarefas ainda é um paradigma a ser quebrado pelos líderes?
Tania Zagury- A liderança produtiva envolve necessariamente divisão e delegação de tarefas. O desafio maior é compreender que se pode delegar tarefas, mas não responsabilidades. No final das contas, se não se atingem as metas desejadas, ou se ocorrem outro tipos de desvios, a responsabilização recairá sobre o gestor. Então é necessário estar ciente disso, para dividir tarefas e até mesmo algumas decisões; sempre, porém, consciente de que, seja como for, a responsabilidade maior será sempre da chefia.