Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue abaixo a entrevista do Prof. Henrique Pacheco.
PME NEWS – Como é o processo de internacionalização das empresas brasileiras, em especial das Pequenas Empresas?
Henrique Pacheco – As empresas brasileiras não têm mostrado um comportamento homogêneo em relação à internacionalização. Em sua maioria, elas raramente “escolhem” a exportação como uma opção estratégica. Com maior frequência, reagem a estímulos externos como, por exemplo: escapar do mercado doméstico saturado ou em crise, respostas a pedidos inesperados do exterior e incentivos governamentais.
A figura de um líder parece exercer papel importante na internacionalização das empresas brasileiras. Empresas que têm sucesso na internacionalização contam com um líder inspirado que acredita no futuro de sua empresa no mercado global.
Os primeiros passos na internacionalização são ainda muito tímidos e as atividades internacionais ainda são consideradas, por muitas empresas, um negócio “em segundo plano”.
No entanto, a boa notícia é que desde a década de 90 o processo de internacionalização acelerou, as empresas começaram a exportar mais cedo do que antes. A habilidade de descobrir e conduzir novos negócios em diversos países deixa de ser uma prerrogativa apenas das grandes corporações.
PME NEWS – Quais são países potenciais para empresas brasileiras abrirem um negócio?
Henrique Pacheco – Existem cerca de 200 países e mais 2,5 milhões de cidades no mundo, o que torna a seleção de mercados uma tarefa complexa. Assim, sugerimos que o empreendedor divida a seleção em duas etapas. Primeiro é feita uma seleção preliminar com o objetivo de filtrar os mercados mais interessantes e excluir aqueles que não atendem a requisitos mínimos. A segunda etapa consiste em uma análise mais detalhada sobre um conjunto menor de mercados previamente selecionados. Só então a empresa será capaz de fazer uma boa escolha.
No entanto, o que se observa é que as empresas brasileiras tendem a preferir países e mercados considerados culturalmente mais próximos do Brasil. De fato, as pesquisas realizadas pelo Núcleo de Pesquisas em Negócios Internacionais da PUC-Rio sugerem que os principais destinos das empresas brasileiras são as culturas latinas como: Argentina, Portugal, Chile, México e Itália.
Nesse ponto cabe um alerta importante. Temos observado que, ao se expandirem para países que supostamente seriam culturalmente próximos, algumas empresas têm enfrentado diversos problemas, o que tem resultado em desempenhos financeiros e de mercado inferiores aos esperados. Boa parte desse problema é ocasionada por um excesso de confiança e até certo descuido por parte da empresa na internacionalização para estes países. Na realidade não se verifica na prática as suposições de semelhança e a aparente proximidade pode se revelar uma armadilha.
PME NEWS – Quais são os pré-requisitos para o sucesso da internacionalização?
Henrique Pacheco – Podemos classificar os inúmeros benefícios da internacionalização em quatro grandes grupos: (1) busca de mercados; (2) busca de recursos; (3) busca de ativos estratégicos e (4) busca de eficiência. Dessa forma, uma empresa que pretende explorar mercados menos competitivos provavelmente selecionará mercados diferentes daqueles, caso seu objetivo fosse acesso a matérias-primas mais baratas ou desenvolvimento de imagem da marca ou a redução da sazonalidade.
Fazer uma boa escolha é meio caminho para o sucesso e pode significar um avanço mais rápido do processo de internacionalização da empresa. Também faz com que a exportação não se torne uma aventura, mas um processo embasado em análises e decisões que permitam comprometimento com a atividade, um pré-requisito para o sucesso.
PME NEWS – Quais são os principais problemas e desafios relacionados com a internacionalização?
Henrique Pacheco – Quando uma empresa, independente do país de origem, se internacionaliza, ela enfrentará diversos riscos, como: riscos políticos, riscos de mercado, riscos financeiros, riscos operacionais e riscos sociais e culturais.
Observamos algumas limitações características das pequenas e médias empresas brasileiras. Existe uma carência grande de profissionais com competências gerenciais para as operações internacionais. De fato, as escolas de negócios no Brasil não têm a tradição de oferecer treinamento para a administração internacional. Felizmente isso está mudando. É possível perceber também que, nas PMEs brasileiras, o processo de internacionalização concentra-se ou no próprio fundador da empresa ou em “homens de confiança” e normalmente ambos têm pouquíssimo tempo disponível para se dedicar às atividades internacionais e, consequentemente, o processo tende a ser mais lento.
PME NEWS – Na área acadêmica como as universidades estão engajadas para a inclusão de estudantes no processo de internacionalização?
Henrique Pacheco – As universidades têm um papel muito importante na formação de profissionais e que vai além da grade de disciplinais. Ela deve ser capaz de estimular a experiência internacional de seus alunos. Exercitar a competência de se comunicar, entender e operar em culturas estrangeiras. Estimular o comportamento proativo e inovador e fomentar a construção de redes internacionais de relacionamento pessoais e profissionais.
Nesse sentido, a formação de estudantes para um mundo globalizado vai muito além de cursos voltados especificamente para o comércio exterior. Para tanto, a própria universidade deve ser internacionalizada por meio de parcerias que envolvem intercambio bilateral não só de alunos como de professores também.
O instituto inglês Times Higher Education, referência mundial em rankings universitários, avalia as seguintes áreas de atuação das universidades: Ensino, Pesquisa, Parceria com a Indústria e Internacionalização. A PUC-Rio, que obteve a 7ª colocação geral no ranking das melhores instituições da América Latina e Caribe, destacou-se justamente por ser líder no Brasil nos indicadores de Internacionalização e Parceria com a Indústria e vice-líder na América Latina.
PME NEWS – Para os estudantes, quais são os principais desafios nesse processo?
Henrique Pacheco – Quem deseja ter sucesso internacionalmente deve ser capaz de adquirir novos conhecimentos e o êxito no mercado externo depende da combinação de três tipos de conhecimento: (1) conhecimento sobre internacionalização; (2) conhecimento sobre mercados; (3) conhecimento tecnológico ou da indústria.
Parte importante do conhecimento necessário é possível ser adquirido por meio da educação formal. Empreendedores internacionais de sucesso tendem a ter mais anos de estudo do que os outros.
Outra parte do conhecimento só é alcançada pela experiência vivida.
Entretanto, existe uma alternativa de buscar novos conhecimentos por meio sua rede internacional de relacionamentos. Por isso, o grande desafio para quem quer empreender internacionalmente é ser capaz de identificar, gerar comprometimento e trabalhar com parceiros capazes de disponibilizar os recursos necessários.
PME NEWS – Qual mensagem você daria ao pequeno empresário que deseja abrir um negócio no exterior?
Henrique Pacheco – A internacionalização de uma empresa ultrapassa a simples comercialização de produtos e serviços através das fronteiras nacionais. O grande desafio de uma empresa que quer se expandir internacionalmente é encontrar os parceiros chave que possam fornecer os recursos, as soluções e o conhecimento necessário para a sua atuação internacional.
Uma empresa com cultura exportadora não é aquela que possui departamento de exportação ou que tem um funcionário dedicado ao mercado externo, mas sim a que entende que seu sucesso depende da integração e coordenação de todas as áreas dentro da empresa: finanças, marketing, produção, logística, administração, etc. Todos devem conversar entre si e compartilhar objetivos em comum. Dessa forma é possível criar as condições necessárias para uma implementação bem-sucedida e coordenada da estratégia internacional.