Esta coluna é destinada a entrevistas com especialistas, gestores, executivos e empresários de destaque.
Segue a entrevista de Oscar Lewandowski.
PME NEWS – Ser uma exceção à regra. É um perigo ou é a solução?
Oscar Lewandoswski – Esta é uma pergunta que merece ser respondida com um pouco de reflexão. Afinal é comum nós ouvirmos de pessoas bem-sucedidas que se orgulham de terem ido na direção contrária da que a maioria das pessoas tomaram. Mas será que obtiveram o sucesso porque foram na contramão das “massas”?
Aqueles que simplesmente saíram da multidão e não atingiram o sucesso nem se feriram gravemente, apenas não se fala neles. Os casos de fracasso e falência de alguém que contrariou o pensamento do senso comum são lembrados e tratados como atitudes de malucos que mereciam o resultado negativo que tiveram.
Logo quando alguém sai da multidão, se não for muito bem-sucedido ou não será lembrado ou será lembrado como merecedor do seu fracasso. O medo de estar nestes dois últimos grupos, de certa forma, explica algumas situações de “efeito manada”. Há quem acredite que ao se dar mal em grupo uma entidade, como governo, irá salvá-lo.
PME NEWS – Você poderia me dar uma ilustração do que é sair da multidão?
Oscar Lewandoswski – Vamos imaginar um formigueiro no qual cada formiga traz um pouco de comida e recebe a sua recompensa em função do comparativo das outras formigas que chegaram na última hora. Uma formiguinha tem duas escolhas: seguir a fila das outras formigas ou se aventurar e procurar comida sozinha (ou com um pequeno grupo). Quando estiver na fila receberá “da rainha” o que todas recebem. Se estiver sozinha e não trouxer nada terá que voltar a procurar até conseguir. Se ela eventualmente trouxer algo melhor que as demais, poderá ficar mais próximo “ao trono” da rainha.
Alguém poderia imaginar que as formigas que andam em grupo estão se protegendo, mas será? Uma fila de formigas pode atrair certos predadores mais rápido que uma formiga isolada. Podemos imaginar que as chances de uma formiga ser pisoteada, por um animal de grande porte, é a mesma estando em grupo ou não.
PME NEWS – Mas qual é a relação do comportamento humano com a economia?
Oscar Lewandoswski – O perigo para uma formiga fora da fila, de andar muito à toa, existe; mas se a rainha de fato diferenciar o prêmio, pode vir a ser interessante este risco. De certa forma é este conceito que se assume quando falamos de racionalidade. Toda a teoria de finanças parte da ideia de que, considerando as informações que dispomos, estamos propensos a correr mais riscos para obter maior retorno.
Entendo que muitas pessoas que têm um salário dado só estão dispostas a procurar outro emprego ou mesmo se transformarem em empreendedores se tiverem uma perspectiva de uma renda melhor. Nós todos, muitas vezes tomamos como certos nossos empregos como formigas que temem sair da fila. Um emprego com estabilidade é como um veio de comida tão grande que parece que nunca vai acabar.
No caso do comportamento humano, ao não estar na fila, uma pessoa pode ser taxada de louca pelos da sua espécie e assim sofrer uma pressão social. Mesmo quando bem-sucedida, esta pessoa será vista como uma aventureira por estar buscando alternativas fora do padrão.
PME NEWS – O que difere um aventureiro de um Louco?
Oscar Lewandoswski – O aventureiro prepara-se e o louco assume riscos além do que deveria. Na linguagem corriqueira é normal dizermos que quando a pessoa é mal sucedida foi uma loucura e quando acerta é um aventureiro. Hoje para associarmos o sucesso de tomadas de decisão que foram inovadoras ou fora do padrão de risco, fala-se que a pessoa tem um espírito empreendedor. Várias são as características associadas aos empreendedores de sucesso como disciplina, planejamento, força de vontade etc.; mas me atreveria dizer que uma não pode faltar, que foi a coragem.
Em algum momento, o empreendedor teve que ousar, seja na abertura do negócio ou na escolha de seu produto, fornecedores ou foco em determinado nicho de mercado. Mesmo um profissional liberal quando visto como empreendedor teve que escolher atividade, formação e área de atuação. Por exemplo, um médico, além da profissão, escolheu sua faculdade, especialização, público-alvo e onde trabalhar.
PME NEWS – Quais são os limites para a ousadia?
Oscar Lewandoswski – As pressões que sofremos da sociedade ou de nós mesmos fazem com que muitas vezes fechemos a porta para mudanças. Incorrer em riscos para aparecer e tirarmos nosso cobertor de proteção para buscarmos retornos melhores é irracional, especialmente quando a própria sobrevivência é posta em risco. Isto de certa forma explique o porquê da propensão a risco variar em função da idade da pessoa. Um jovem acredita ter maior força de trabalho e adaptabilidade que pessoas mais velhas.
Cada um em função do seu estômago e experiência de vida deve decidir se e quando arriscar. Particularmente, eu recomendo em empreitadas a pessoa ter um plano B; ou seja, ter uma fonte de renda alternativa, seja própria ou do cônjuge, tendo algo que funcione como um seguro no caso do resultado não chegar ou demorar. Mas, de novo, isto sou eu falando com base na minha experiência; outros mandam mergulhar de cabeça. Por isso somos como formigas indo em todas as direções, sozinhas ou não!