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Filho único

Sidney Cohen
Palestrante
CEO da Bit Partner Consultoria Empresarial
CEO do PME NEWS

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E então, se você fosse abrir uma empresa hoje, apostaria as suas fichas em um único produto? Certamente se você está passando por isso, vai ouvir opiniões favoráveis e contrárias. E sempre que envolve esse assunto lembro-me do Raul “Parafina”.

Ex-surfista, empresário, dono de uma loja de um único produto, prancha de surf. Raul é filho único e pai de filho único, logo ele que sempre pensava grande nos tempos da faculdade e optou pela versão “mono”.

Mas, cá para nós, a versão “mono” nos negócios é bem interessante para quem está abrindo um negócio. Boa parte é especialista no assunto, seja para o produto ou serviço e por envolver menor custo financeiro e operacional. Comparado a soluções “multi”, acaba sendo uma ótima opção.

Esse conceito é comum na área da gastronomia, um bom exemplo é da La Joelheria. Isso mesmo, com a letra “e”. A lanchonete carioca é especializada em Joelho (salgado enroladinho de presunto e queijo). Comer joelho sempre foi uma paixão de infância e que os donos têm até hoje. O modelo de monoproduto ajudou muito no início, pois tinham os mesmos fornecedores, contribuindo em ganhar experiência para depois diversificarem. Hoje o cardápio é amplo e conta também com a linha premium que varia de banana, chocolate, goiabada aos sabores de queijo brie e gorgonzola.

Outro exemplo interessante é o negócio da Tia Clô, feirante que só vende bananas em sua barraca. Ela é campeã de vendas. Você deve estar perguntando, mas como? Logo na feira, concorrência enorme e barracas que possuem mais variedades de frutas? Pois é, a Tia Clô sabe tudo de banana. Além da especialização, ela foca na fidelização. A cada semana ela dá uma receita diferente de pratos com banana para seus clientes. Internet, Whatsapp? Nada disso, o cliente precisa ir à barraca para ouvir a receita. Tudo bem que ela poderia usar os recursos da tecnologia, mas é a forma que ela adota de vender e fidelizar. E ela não tem do que reclamar.

Outro modelo de negócios que nasceu “mono” e que não para de crescer é o das fintechs. Segundo a plataforma de inovação Distrito, as fintechs tiveram um crescimento de 34% em 2020, com US$ 939 milhões em aportes e investimentos de US$ 2,4 bilhões nos últimos cinco anos.

Muitas são vistas como boas alternativas de crédito às MPMEs (micro, pequenas e médias empresas). Estas startups financeiras, antes mesmo da pandemia, diferenciavam-se dos bancos tradicionais pelo fato de serem vistas como “monoprodutos”, com foco em atender nichos específicos. Por serem digitais, não possuem agências físicas e apresentam baixo custo.

Com a digitalização do serviço financeiro, o open banking, sistema bancário aberto, atende um conjunto de regras definidas pelo Banco Central, que proporciona o compartilhamento de informações financeiras dos clientes. Essas regras atendem as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o usuário tem autonomia em compartilhar seus dados com as instituições financeiras de sua preferência, sempre com o seu consentimento.

Este modelo alavancou os negócios no país e abriu os olhos das grandes empresas varejistas, como o Mercado Livre, B2W, Via Varejo e Magazine Luiza, que passaram a agregar serviços financeiros, dentre eles o pagamento e ofertas de empréstimos para o consumidor final e também para os lojistas.  Esse formato ampliou a demanda para as fintechs especializadas em atender este nicho.

E claro… A Nubank não poderia ficar de fora. Em julho deste ano, ela passou a oferecer o serviço de transferência internacional de recursos através da plataforma “Remessa Online” da fintech BeeTech.

Os grandes brancos tradicionais também estão de olho na inovação e contam com programas de apoio às fintechs, a exemplo do Programa InovaBra do Bradesco e do Cubo do Itaú.

Outro exemplo de parcerias de monoproduto é o da Cervejaria Germânia com a rede de franquias FiChips (fast food de peixe frito com batatas). A parceria vai além do fornecimento de chopes para as franquias. Elas são “sócias” no modelo de negócio envolvendo franquias em quiosques para o estado de São Paulo. Para outros estados a FiChips tem parcerias com outras distribuidoras ou fornecedoras locais.

Especialização, fidelização e parceria são algumas das vantagens do mono produto/serviço. As limitações, porém, podem transformar-se em desvantagens, da noite para o dia. Por isso é importante conhecer além do seu produto/serviço, o mercado e principalmente as variações dele. A pandemia é um ótimo exemplo; se o seu produto atende a demanda atual, seu público fidelizado já o procurou, ou então, a sua especialização fará o mercado te procurar. E se de tudo isso ainda não aconteceu, foque na parceria com empresas que precisam de sua solução.

Ah! Lembra do Raul Parafina?  Pois é, ele usou as vantagens de se ter uma loja monoproduto e hoje é “multi”. Sua loja vende também produtos surfwear e tem um bistrô de comidas saudáveis dentro da loja (parceria com um dos fornecedores). E está abrindo uma filial e partindo também para a loja virtual. E a família? Bem, o Junior não é mais o filho único, pois já tem uma irmãzinha. O Raul seguiu a risca a receita da versão “mono” e a família Parafina agradece.

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