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Expectativa, um sinal positivo ou negativo?

Oscar Lewandowski
Economista e Professor Universitário

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A respeito do mercado de capitais, muito se fala que o mercado é feito por expectativas. Quando as expectativas dos principais formadores de preço são positivas, o mercado tende a ser de alta; quando as expectativas são negativas, o mercado tende a ser de baixa. Independentemente da formação de preço ser constituída pela maioria dos investidores ou por grandes investidores, o fato é que tanto quem compra quanto quem vende baseia-se naquilo que acredita que pode vir a ocorrer no futuro. Se alguém está comprando é porque alguém está vendendo. Oooh!! Falar o óbvio chega a ser ridículo!

O que é preciso se ter em mente a respeito do comportamento do mercado, seja para ações, dólares, juros, petróleo e qualquer commodities; é que as expectativas entre os agentes são distintas. Somente no futuro saberemos quem de fato acertou. Não adianta dizer frases prontas como:

“Tudo indicava que o petróleo iria cair, mas estourou uma guerra.”

“Tudo indicava que já tinha chegado no fundo do poço, como ia saber que o poço não tinha fundo.”

“Como ia imaginar que a empresa líder podia quebrar?”

“Houve uma mudança tecnológica que ninguém não conseguiu perceber.”

“Fatores climáticos mudaram o comportamento.”

“Eu sabia que um dia o preço iria se corrigir, só não esperava que fosse tão rápido.”

Quando nossas expectativas nos frustram, parece que alguém já sabia. De fato, há várias situações que existem detentores de informação que tiram proveito; fazendo com que tenhamos o sentimento de termos sido usados. A verdade é que a qualquer momento pode ser traçado diferentes cenários para o futuro. Acertar este cenário já é difícil, mas fica mais complexo quando pensamos que devemos acertar quando tal cenário deve ocorrer e como outras variáveis indiretamente podem se comportar. De trás para frente é fácil. Assim, para demonstrar a ideia do perigo mesmo quando as expectativas estão corretas vou descrever situações da história recente.

Exemplo 1: Para entender a crise de 2008 e a bolha Imobiliária Americana recomendo que assistam o filme: A GRANDE APOSTA, que teve a participação de estrelas como Steve Carell, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Karen Gillan, Christian Bale e Brad Pitt. No filme é possível se perceber que a possibilidade de estourar a bolha imobiliária com reflexos catastróficos para a economia global, foi prevista por poucos especialistas. Estes fizeram suas apostas na contramão do mercado seja indo contra a maioria dos investidores ou contra grandes investidores. Em um dos casos foi inclusive em dissonância com o próprio banco em que o gestor de carteira de investimento atuava. Mesmo ao acertarem e faturarem muito o filme deixa claro que o timing não podia ser previsto, mas o pior mesmo é que quem estava na outra ponta correu o risco de quebrar e assim nem conseguir honrar com os compromissos assumidos. Em outras palavras se o mercado como um todo tiver quebrado, não adianta ter razão.

Exemplo 2: Devido a variações cambiais, ao longo da história brasileira diversas empresas quebraram; algumas inclusive eram muito bem-sucedidas em termos operacionais até o momento da descontinuidade; mas por não estarem devidamente protegidas para variações abruptas no dólar deixaram de serem capazes de honrar seus compromissos com devedores ou fornecedores. Note que a falência pode ter ocorrido tanto pela desvalorização quanto pela valorização do real de maneira surpreendente. O mesmo tipo de quebradeira pode ter sido causado pela imprevisibilidade das taxas de juros. Por razões óbvias não posso dizer os nomes de tais empresas; mas destacaria que empresas de setores exportadores e importadores bem como de atividades financeiras tem como obrigação considerarem historicamente em seus riscos a possibilidade de variações abruptas. Todavia empresas de setores agrícolas e de construção, não consideravam cenários extremos de variação cambial ou de juros no curto prazo e muitas foram levadas à bancarrota, acreditando que o Estado iria socorrê-las em situações extremas. Obviamente com as experiências negativas, os concorrentes que sobreviveram tomaram outras precauções, em especial estratégias de “hedge” para não se deixarem depender do humor do mercado.

Exemplo 3: Uma mudança que merece ser considerada é aquela que provém de uma evolução tecnológica. A desenvolvimento das câmeras fotográficas foi uma revolução, aonde câmeras que usavam filmes foram substituídas em meia dúzia de anos por câmeras digitais no mundo inteiro. Causando uma alteração não apenas na cadeia produtiva de câmeras ou de filme, que era dominado por um oligopólio de 3 empresas no mundo todo; mas principalmente na relação dos usuários com seus aparelhos. Estes passaram a imprimir suas fotografias em suas casas, ao invés de revelarem filmes em lugares especializados que em pouco tempo praticamente deixaram de existir. Esta revolução nem foi percebida pela geração atual, pois em menos de uma década foi sobreposta por outra revolução que ocorreu com o advento dos telefones com câmera fotográfica acoplada e em seguida pelos aparelhos com filmadora e atualmente smartphones, que hoje são de uso para qualquer pessoa, especialmente crianças. As mudanças comportamentais que se seguiram vão muito além do que se sonhava há poucas décadas. Mandar documentos, tirar selfies, ampliações, realizar reuniões com várias pessoas, assistir e participar ativamente de noticiários, Tik Toks, exames médicos e muito mais de forma on-line; mudou as relações humanas de forma que muitos de nós ainda não nos demos conta, de modo que as gerações mais jovens nos veem como primitivos. A explosão da variedade de apps e da integração contínua com outros aparelhos indicam que há muito ainda por vir, mas é cedo para dizer como isto vai afetar as relações humanas.

Expectativas não devem ser pensadas por serem positivas ou negativas, mas pelas probabilidades que as análises estão baseadas. Situações raras e dramáticas como guerras nucleares ou quedas de asteroides não ajudam a criar cenários úteis. Todavia, aqueles que criam mecanismos para aproveitarem ou se protegerem das mudanças prováveis poderão estar mais preparados para enfrentarem o futuro, mas lembrem-se que não podemos traçar o cenário futuro como um todo; pois ele deve vir com mudanças comportamentais imprevisíveis.

*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.

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