A presença de mulheres em conselhos de administração, especialmente nas Pequenas e Médias Empresas (PMEs), é um tema que ganha importância crescente diante dos avanços regulatórios, dos benefícios estratégicos amplamente comprovados e dos desafios culturais que ainda persistem no Brasil.
Embora grandes corporações tenham avançado com políticas de diversidade e programas voltados à equidade de gênero, as PMEs continuam com baixa representatividade feminina em seus colegiados, apesar de formarem a base da economia nacional.
Em julho de 2025, o país deu um passo decisivo com a sanção da Lei nº 15.177, que determina uma cota mínima de 30% de mulheres nos conselhos de administração de empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias. A norma, de autoria da deputada Tabata Amaral, prevê um escalonamento gradual (10% no primeiro ciclo eleitoral, 20% no segundo e 30% a partir do terceiro), além de reservar parte dessas vagas para mulheres negras e com deficiência, medida que aprofunda o compromisso com a diversidade representativa.
Embora a obrigatoriedade recaia sobre estatais, o impacto simbólico da lei é amplo: ela inspira empresas privadas e reforça o alinhamento do Brasil às práticas internacionais de governança inclusiva.
O movimento também estimula adesões voluntárias: companhias privadas, inclusive PMEs de capital fechado, podem optar por seguir a regra, fortalecendo sua imagem institucional e sua agenda ESG perante investidores e a sociedade.
Minha experiência
Em minha trajetória como conselheira de uma empresa do setor alimentício com forte presença nacional, pude vivenciar de perto como a diversidade de gênero transforma a governança em prática.
A diversidade fortalece o diálogo entre executivos, aprimora a análise de riscos e impulsiona estratégias de crescimento sustentável. Ela não deve ser vista como um adorno institucional, e sim como o motor que amplia a visão e promove a sustentabilidade corporativa.
O que fazemos
A transformação começa com a criação de um ambiente de conselho que valorize múltiplas vozes e perspectivas.
Mais do que ocupar cadeiras, é essencial participar ativamente das decisões estratégicas, questionando o status quo e propondo novas abordagens em temas como inovação, ESG, compliance e cultura organizacional.
Trabalhamos para estruturar rituais de governança mais transparentes e participativos, em que as pautas corporativas incluam também as dimensões humanas e sociais. Assim, a diversidade deixa de ser uma meta simbólica e se torna um verdadeiro indicador de desempenho organizacional.
Como fazemos
Essa mudança se consolida a partir de três pilares práticos:
Formação e capacitação contínua
Criamos um ambiente de aprendizado constante, com foco em atualização regulatória, gestão de riscos e inovação tecnológica, preparando conselheiras e conselheiros para decisões cada vez mais complexas.
Governança inclusiva
Incentivamos a revisão de estatutos, regimentos internos e políticas de sucessão, garantindo que a diversidade seja critério formal na composição e no desempenho dos conselhos.
Cultura de diálogo e escuta ativa
Valorizamos conversas genuínas e construtivas, em que a divergência serve de combustível para a evolução. A presença feminina equilibra estilos de liderança e promove um ambiente mais colaborativo e estratégico.
“A diversidade não é um adorno; é um ativo intangível que impulsiona desempenho e competitividade”.
Nas PMEs, a criação de ambientes de conselho mais diversos começa com a valorização de múltiplas perspectivas e a participação ativa nas decisões. Essa mudança requer conselhos transparentes, em que temas como inovação, ESG, compliance e cultura organizacional estejam integrados à pauta.
Essas ações criam um círculo virtuoso: conselhos diversos produzem decisões mais robustas, impulsionam resultados financeiros e elevam a reputação institucional.
As PMEs, por sua vez, têm muito a ganhar com isso: além de aprimorar a governança, ampliam sua competitividade e sua capacidade de atrair talentos femininos qualificados.
Entretanto, a realidade ainda apresenta barreiras culturais, estruturais e relacionais. Muitas PMEs mantêm conselhos familiares ou compostos por redes restritas de confiança, o que limita a oxigenação de ideias.
Outros desafios incluem a ausência de políticas de inclusão e o fenômeno da “porta giratória”, em que as mesmas mulheres ocupam diversos assentos em diferentes empresas, impedindo a entrada de novas lideranças.
Superar esse cenário exige ação coordenada: capacitar mulheres em governança, ampliar suas redes de relacionamento, criar processos transparentes de seleção de conselheiros e valorizar publicamente as experiências bem-sucedidas de PMEs que adotaram modelos heterogêneos.
Movimentos como o 30% Club Brazil e o Panorama Mulheres 2025 do Insper trazem evidências concretas de que empresas mais diversas são mais inovadoras, éticas e perenes.
Ter mulheres nos conselhos de PMEs não é uma questão de justiça social, mas de inteligência estratégica. Num ambiente empresarial cada vez mais volátil, tecnológico e competitivo, a pluralidade de perspectivas se torna a ferramenta de governança mais poderosa que uma empresa pode ter.
Quando as mulheres ocupam esses espaços com preparo e propósito, o impacto transcende o conselho e reverbera positivamente na economia e na sociedade como um todo.



