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Fluxo de Caixa

Oscar Lewandowski
Economista e Professor Universitário

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Você conhece o seu Fluxo de Caixa?

Imagino que esta é uma pergunta que mesmo as pessoas que responderem sim, terão dificuldade de reconhecê-lo no presente mês e mais ainda nos  12 últimos meses. No caso de empresas, sejam pequenas ou grandes, tal identificação fica normalmente a cargo de quem faz a apuração contábil. Muitos se baseiam no superavit ou no déficit financeiro; ou numa linguagem coloquial no que sobra a mais na sua conta ou no que foi necessário usar das suas reservas ou levantar adicionalmente.

Objetivamente, para uma pessoa física com somente uma conta bancária, pode-se dizer que o aumento do seu saldo de um mês para o outro é a sua geração de caixa; enquanto sua redução é a perda de caixa. Note que isto não significa necessariamente maior eficiência na data de aumento de caixa. O caixa positivo do mês pode ser por empurrar obrigações para outro período ou adiantar recebimentos. Esta situação de folga de caixa é muito comum nos meses de férias para quem recebe o salário de férias adiantado e que ao mesmo tempo usa o cartão de crédito para pagar hotel, passagens etc. Por outro lado, uma pessoa que compra um eletrodoméstico a vista querendo aproveitar um desconto pode estar tendo um aperto de caixa. Logo analisar fluxos de caixa de forma isolada e no curto prazo pode levar a equívocos.

Reconhecer o fluxo de caixa e o seu comportamento para empresas é complexo. A literatura acadêmica normalmente decompõe o Fluxo de Caixa Total, por um lado em Fluxo de Caixa Operacional e Fluxo de Caixa do Investimento (seja longo ou de curto prazo); por outro lado identifica o Fluxo de Caixa do Capital Próprio e o Fluxo de Caixa do Credor. De forma coloquial significa buscar apontar onde é gerado ou indicar a quem se destina os recursos gerados.

Imagine um estabelecimento comercial que em um determinado mês teve R$100 mil de Fluxo de Caixa Total, ele pode ter tido na sua atividade principal um Fluxo Operacional de R$120 mil positivos e ter adquirido novos equipamentos gastando R$20 mil no seu Fluxo de Investimento; sendo que os R$100 mil gerados foram destinados R$90 mil para os acionistas na forma de Fluxo do Capital Próprio e R$10 mil para os bancos na forma de Fluxo do Credor.

Para os não experimentados na execução das apurações contábeis, vale mencionar alguns dos desafios envolvidos na elaboração do Fluxo de Caixa. A complexidade na identificação do Fluxo de Caixa Operacional costuma torturar contadores e empresários com informações que normalmente são levantadas via regime de competência, mas precisam ser apresentados via regime de caixa para a correta identificação das entradas e saídas de dinheiro. Pagamentos que são postergados, bem como recebimentos atrasados e a existência de contas não monetárias (destaque para depreciação) explicam o porquê do Lucro Operacional ser distinto do Fluxo de Caixa das Operações.

Identificar a evolução do Fluxo de Caixa de uma empresa ou atividade, além de ser útil para reconhecer a saúde financeira quando se olha o passado e o presente, pode ser um instrumento para o seu planejamento estratégico. A estimativa dos fluxos de caixa futuros é fundamental para as principais formas de avaliação de negócios. Avaliações básicas via VPL (Valor Presente Líquido), TIR (Taxa Interna de Retorno) e Payback (Tempo de Recuperação) prescindem dos fluxos de caixa esperados.

Sempre será uma tarefa difícil estimar o Fluxo de Caixa futuro; tomar como base o presente e o que se passou no passado recente é o ponto de partida usual. Assim sendo, por exemplo, se um restaurante localizado no centro da cidade possui despesas com fornecedores confiáveis e apurou, por uma década, um fluxo de caixa anual médio com base em 5 mil refeições mês, variando entre 4,8 mil e 5,2 mil; poderia se imaginar que seu fluxo de caixa seja relativamente estável. Mas tudo pode mudar com a entrada de concorrentes ou a alteração do comportamento do consumidor; trata-se de uma atividade com poucas barreiras a entradas e sujeita a “modismos”. Neste ramo a concorrência, pode surgir via fornecedores de quentinhas, ou via clientes trazendo de casa refeições industrializadas.

No início deste ano de 2023, diversas empresas se depararam com a dificuldade de estimar o fluxo de caixa esperado; devido aos anos de 2020, 2021 e 2022 terem sido tão atípicos, dada a Pandemia de Covid. Alguns especialistas assumiram que as estimativas do presente ano e dos próximos deveriam retornar aos parâmetros pré-pandemia. Todavia, mudanças comportamentais que levaram a ampliação do EAD, home-office, canais de streaming, refeição em domicílio, aparentemente vieram para ficar.

Traçar cenários após uma “quebra temporal” como a que a nossa geração viveu em um mundo que já estava em ebulição gradual, tornou-se uma tarefa ainda mais árdua. Enquanto alguns setores como faculdades de ensino superior estão sendo surpreendidos por uma redução da demanda; outras atividades como as relacionadas ao setor do turismo estão vendo sua recuperação de forma bem acelerada.  Estimar Fluxos de Caixa que já era desafiador ficou ainda mais difícil, mas nem por isto deixou de ser necessário.

*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.

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