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O que Vale Mais? O Dinheiro de Hoje ou o Dinheiro de Amanhã?

Oscar Lewandowski
Economista e Professor Universitário

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As razões para analisar valor no tempo são diversas. Considerações sobre a sequência dos fluxos esperados são fundamentais, tanto para quem financia quanto para quem investe. De forma simplificada, o termo valor do dinheiro no tempo quer dizer que um real na mão hoje vale mais do que um real prometido para algum momento futuro. Esta é uma lógica que está presente em todos os livros de finanças e de certa forma é o princípio norteador de qualquer aula de matemática financeira. Muitas vezes justificado pela psicologia como uma função do comportamento humano em relação a satisfação imediata ou aversão a risco. “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”.

O que se assume é que valor no tempo difere de valor nominal (preço ou numerário pago ou recebido). Alguém quando está pagando um financiamento de um bem cujo preço é de 1000 reais em parcelas iguais de 100 reais cada, notará que as parcelas iniciais têm um valor maior que as futuras. Para simplificar imagine que ele tivesse os recursos hoje, mas prefere pagar no futuro nas 10 parcelas contratadas. Para pagar a primeira parcela precisaria hoje de menos do que 100 reais; pois poderia aplicar no banco por um mês. Para pagar a segunda parcela precisaria agora de menos ainda; pois poderia depositar um valor no banco por dois meses. Obviamente a última parcela, teria 10 períodos para receber os juros de um depósito que pudesse ser feito hoje. Assim pode-se dizer que o valor presente de cada parcela é decrescente no tempo, quando as parcelas possuem valor nominal constante.   

A mesma lógica pode ser implantada para quem investe. Assim, quando alguém compra um bem e espera receber qualquer espécie de retorno irá perceber o tempo como uma variável relevante. Um exemplo bem simples pode ser dado para uma pessoa que compra um carro usado por 8 mil reais e espera vendê-lo hoje por 10 mil reais. Na hora de vendê-lo um comprador diz que quer pagar à vista e outro quer pagar com um cheque para 6 meses. É de se esperar que a quantia cobrada para aquele que quer pagar no futuro seja superior à do primeiro, uma vez que o vendedor do carro quer ter os recursos o quanto antes para reinvestir ou simplesmente para dispor dele para suas despesas atuais. Se o cheque para daqui a 6 meses fosse de 11 mil reais seria o mesmo que dizer que a taxa assumida para o período semestral é de 10 %. Se vale a pena ou não, irá depender das alternativas de mercado considerando a confiabilidade do emissor do cheque.

O tempo terá impacto maior nas contas à medida que as condições dos juros forem maiores. Para taxas elevadas o impacto do valor do dinheiro será substancial e perceptível facilmente; para taxas baixas ela pode ficar imperceptível no curto prazo, mas ela não deve ser desprezada no longo prazo, devido ao seu caráter cumulativo.

Através do uso de equações, calculadoras financeiras e planilhas; alunos são treinados a usar os instrumentos que dispõem para responder perguntas solicitadas em avaliações e concursos. Infelizmente, em muitas situações o aprendizado fica desfocado da realidade e para alguns simplesmente foi algo que aprenderam na época porque foram exigidos. Faria um paralelo com o aprendizado de tabela periódica que parece ter sido inútil para os que não são mais usuários de tal ferramenta. 

Ainda que o domínio e uso constante da ferramenta pode não ser de conhecimento de todos, é importante destacar que as variáveis básicas norteadoras de qualquer decisão financeira são: valor presente, valor futuro, tempo e taxa de desconto. A diferenciação do valor presente para o valor futuro se dá justamente em função do tempo (que é medido pelo número de período) e pela taxa de desconto. Esta taxa é a variável mais complexa para ser identificada, de acordo com a necessidade e capacidade do usuário ela pode ser vista como uma função da inflação, juros bancários, aplicações alternativas ou do risco envolvido na operação. Podendo inclusive ser a variável a ser determinada quando as outras três são conhecidas.

O conceito de valor do dinheiro no tempo é tão intrínseco e fundamental para finanças, quanto a gravidade é para física, o reconhecimento da existência de células é para a biologia, a propagação de ondas sonora é para a música e por assim vai. Reconhecendo ou não o valor do dinheiro no tempo, qualquer pessoa será impactada por ele, pois sua relevância faz parte de suas escolhas. Em muitos casos o devido conhecimento das ferramentas financeiras pode ajudar a evitar escolhas equivocadas. Mas me atreveria a dizer: que assim como qualquer pessoa pode tentar fugir de um objeto que possa cair em cima dela, mesmo que não conheça o conceito de gravidade, qualquer pessoa entende que deixar para receber no futuro algo que pode dispor agora é uma perda de oportunidade. Logo assim como um bom ouvinte pode reconhecer uma boa música, um bom empresário pode através da sua intuição ou experiência de vida escolher um projeto adequado levando em conta o tempo e o risco incorrido, ainda que isto ocorra de forma inconsciente. 

*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.

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