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Payback – O Tempo Enquanto Instrumento de Aceitação de Projetos

Oscar Lewandowski
Economista e Professor Universitário

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Quando devo estar recebendo de volta pelo menos o que disponibilizo hoje?

Esta é uma das perguntas reflexivas mais comuns antes de se fazer qualquer investimento, seja para empresários ou pessoas físicas. Identificar o momento em que se recupera o investimento, pode ser útil para a aceitação ou não de um projeto. Nos livros didáticos de finanças tal método é denominado PAYBACK; podendo se apresentar de diferentes formas, onde as mais usuais são:

a) O payback simples que indica o tempo de recuperação do dinheiro investido.

b) O payback descontado que identifica o tempo de recuperação do valor, uma vez que considera uma taxa de atualização dos fluxos esperados, assumindo que haja perda de valor do dinheiro no tempo e risco.

De forma objetiva, o payback apresenta quantos anos, meses e até dias, algum projeto ou atividade precisa para recuperar aquilo que foi investido; se este período for abaixo do prazo de tolerância, o projeto é aceitável.

Trata-se de um instrumento que muitas pessoas costumam se identificar; pois já tomaram decisões usando esta lógica de forma intuitiva. O próprio mercado costuma estimular a aquisição de seus produtos e serviços destacando o fator temporal.

“Use lâmpadas econômicas que, a redução do consumo de energia, em menos de um ano já compensa a troca”.

Um outdoor que esteve na moda era: “Se você instalar o Kit-gás e rodar pelo menos 500km por mês irá recuperar o seu investimento em 8 meses”.

Uma das situações mais exemplificadoras de que este é um instrumento corriqueiro e quase automático no pensamento de muitas pessoas, foi de um aluno que disse: “se a carteirinha de estudante custa R$20,00 e a cada ida ao cinema economizo 5 reais, basta eu ir uma vez por mês que em quatro meses já me compensou”. Note que indiretamente foi assumido que uma lâmpada econômica e o kit-gás dure alguns anos; a própria carteirinha de estudante na época tinha validade de 12 meses.

Identificar tanto o período do payback como conhecer o período de vida útil de um projeto são fundamentais, mas não são suficientes para se dizer se um projeto é aceitável ou não. O prazo de tolerância deve ser determinado previamente e superior ao payback e obviamente inferior ao encerramento do projeto. A questão é que este prazo normalmente é arbitrário e escolhido pelo tomador de decisão (seja um departamento ou um indivíduo). Justamente por ser arbitrário o prazo de corte, pode se afirmar que há coerência em aceitar um projeto que outra pessoa ou instituição tenha rejeitado. Os motivos para que os prazos ou pontos de corte sejam distintos vão desde regulamentações até diferenças de personalidade.

No exemplo da lâmpada uma pessoa com possibilidade de mudar de casa pode não trocar a lâmpada; assim como um motorista mais ansioso pode ter como ponto de corte um período menor para a colocação do kit-gás do que um motorista mais relax. Não se trata de escolhas certas ou erradas, mas coerentes com cada necessidade.

Cuidado! Ainda que o payback responda de forma coerente se um projeto é aceitável ou não, este método não diz se um projeto é preferível a outro. Dois ou mais projetos podem ser aceitáveis, mas ser fundamental escolher qual deles é o melhor. Nos exemplos expostos, podem existir alternativas melhores como: diferentes luminárias econômicas, diferentes formas de economizar combustível (outros kit-gás, troca por um carro híbrido, flex etc) e carteiras que ofereçam desconto semelhante com validade mais alongada.

Um dos equívocos mais comum é considerar o payback como um instrumento de comparação, escolhendo o projeto que o período de recuperação for menor. Ainda que estejamos com projetos de mesmo risco, mesmo tamanho e de mesma vida útil; não devemos usar o conceito de “quanto mais rápido eu receber o que gastei melhor será”. Costumo ilustrar tal equívoco com os seguintes exemplos:

  • Dois restaurantes por kilo, um em frente ao outro, um resolve economizar nos insumos, logo acredita recuperar o investimento em menos tempo que o concorrente que pode até cobrar um pouco mais caro; é de esperar que só com o passar do tempo o mercado reconheça a “qualidade” superior do segundo. Enquanto o primeiro deve ter fluxos constantes e até decrescentes, espera-se que o segundo restaurante tenha fluxos crescentes ainda que inicialmente menores, pois seu preço era mais elevado. Os dois restaurantes podem ser viáveis e aceitáveis, mas o segundo irá demorar mais a mostrar ao proprietário que o seu investimento está sendo recuperado; todavia tende a ser mais sustentável caso a clientela venha a perceber o produto como diferenciado.
  • Dois taxistas compraram carros identicos, um faz mensalmente a manutenção: rodízio de pneu, limpeza do carro etc; o outro taxista não faz manutenção preventiva e roda diariamente até o carro apresentar algum problema. É de se esperar que o taxi do primeiro motorista tenha um payback mais longo; todavia seu carro além de tender a durar mais, terá um valor de troca provavelmente melhor e será mais atrativo a clientela por mais tempo do que o outro carro.

Ainda que ter um ponto de corte temporal para determinar a aceitação ou não de um projeto seja razoável, é importante não sermos muito imediatistas para projetos de longa duração; pois podemos desperdiçar boas oportunidades ao sermos muito rígidos. Como exposto: mais rápido não significa melhor. Como alusão lembro que o coelho é mais rápido que a tartaruga, mas vive poucos anos e no mesmo quintal; enquanto a tartaruga vive perto de um século e atravessa países.

*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.

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