Entrevista concedida pela Renata Nigri, ao PME NEWS, na edição de agosto de 2016 – Tema: “Resiliência SER ou TER?“.
PME NEWS – O que é resiliência?
Renata Nigri – O termo resiliência vem da Física, e significa o nível de resistência que um material pode sofrer frente às pressões e sua capacidade de voltar ao seu estado original.
Na psicologia esse termo foi usado para indicar como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis, e sua capacidade de recuperação emocional por traumas, falência, turbulência…
Nos últimos anos, esse conceito de resiliência evoluiu para uma capacidade de transformação, de se antecipar aos cenários, de criar oportunidades e de promover mudanças importantes e positivas.
Quem está em busca de emprego, por exemplo, deve saber que existem setores que estão mais resilientes à crise. Apesar de o índice de desemprego ter subido, existem áreas de atuação que ainda oferecem oportunidades.
Estar antenado para as oportunidades, assim como explorar novas possibilidades de fontes de receita a partir do seu talento e da sua experiência, são atitudes resilientes. Atuo como coach pessoal e empresarial e percebo essas atitudes em meus clientes, pois boa parte percebeu que precisa ficar mais forte em meio a toda essa recessão.
PME NEWS – Como se aplica a resiliência no ambiente de trabalho?
Renata Nigri – A resiliência no trabalho e na própria vida pessoal ajuda a perceber que a intensidade da mudança no momento de turbulência não é uma ameaça por si só, pode ser uma forma de nos tornar ainda mais fortes. Isto é bem nítido no esporte. Os grandes campeões olímpicos não se diferenciam tanto fisicamente dos atletas de nível mais baixo, não fazem apenas as coisas melhor, eles fazem coisas diferentes, explorando o potencial da sua mente e tendo atitudes práticas: proatividade, positividade, flexibilidade, foco no propósito e disciplina. Poderia citar vários: Maria Lenk, Usain Bolt, Vanderlei Cordeiro, todos os atletas respeitadíssimos que têm uma história de SUPER+AÇÃO.
Concluindo, aqueles que passaram por adversidades às vezes pesadas e tiveram força para se reerguer ainda maiores têm uma energia interna contagiante, empatia e humanidade, ao mesmo tempo que demonstram força e determinação. Isso é o que os diferenciam! Logo, o nível de resiliência de uma pessoa vai influenciar no seu sucesso ou vai se perder no caminho.
PME NEWS – A resiliência é um dom natural ou uma competência que pode ser desenvolvida?
Renata Nigri – A resiliência sem dúvida é uma competência profissional que pode ser aprendida e mais, precisa ser desenvolvida e sempre.
O mapa para se desenvolver resiliência é o autoconhecimento e autodesenvolvimento de competências comportamentais e de liderança da própria vida. Desenvolver a capacidade de não se deformar, não se corromper e não se perturbar.
A dica é não gerar expectativa do resultado e sim criar a perspectiva do resultado, para assim trabalhar nas possibilidades.
PME NEWS – O que difere um profissional resiliente ao não resiliente?
Renata Nigri – Pessoas que demonstram um comportamento resiliente são percebidas com uma capacidade de ter confiança, perseverança, flexibilidade e positividade frente às crises e adversidades. São pessoas que, independente do resultado, mantêm-se engajadas, mobilizadas e movidas por um sentimento de esperança, partem para ação e fazem acontecer. Demonstram uma habilidade incrível de resolver problemas e ser orientada a solução. Avaliam as possibilidades e criam novas oportunidades. A sua força não vem da dependência de TER resultado positivo, mas do seu próprio SER positivo.
Os resilientes responsabilizam-se pelos seus resultados e não se fazem de vítimas.
PME NEWS – Em momentos de tensão, como o atual, ocasionado pela alta taxa de desemprego, qual o papel que o líder deve exercer sobre sua equipe?
Renata Nigri – Vivemos num tempo que não sobrevive mais o maior e sim o profissional mais rápido e articulado. O papel dos executivos nas empresas no contexto atual é de uma liderança que crie uma visão comum, tenha um propósito que inspire as decisões em todos os níveis, impactando de forma positiva a cultura organizacional e as relações interpessoais.
A metáfora da equipe de rafting e da equipe de remo ilustra bem as mudanças nos padrões de liderança. No lago, o timoneiro dita o ritmo e faz os ajustes da equipe através do seu comando. Na descida do rio, no meio, a águas turbulentas não há como ter uma voz de comando, as pessoas devem ter dentro delas os conhecimentos e habilidades, iluminados pelos princípios que as levem a tomar a decisões na hora, caso contrário não vai funcionar.
Estamos em uma nova era do trabalhador, do conhecimento e precisamos ir além da eficácia. Um novo tempo que exige uma nova mentalidade e um novo conjunto de competências, e a resiliência é uma delas.