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Empreendedorismo Cultural

Carlos Alberto Messeder
Antropólogo e CEO da KOGNITIVA

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Ao longo dos últimos anos, o campo da cultura como um todo, por razões político-ideológicas, andou bastante complicado. Verbas e incentivos foram cortados, a legislação se viu atrapalhada de todas as formas e os produtores culturais, consequentemente, perderam legitimidade e espaço de mercado enquanto novos produtores não se sentiam estimulados a entrar em campo e produzir. Desde o início de 2023, no entanto, o quadro se alterou e a atividade cultural voltou a ser prestigiada, apoiada e estimulada a desenvolver todo seu potencial de mercado.

É nesse novo contexto que vale a pena refletir um pouco sobre a natureza, o papel e o potencial do empreendedorismo cultural. Mas o que vem a ser exatamente empreendedorismo cultural e quais seus desdobramentos possíveis para uma sociedade ávida por novas formas de criação de emprego e, consequentemente, de novas formas de geração de renda? Acredito que a cultura como campo de produção e consumo tenha enorme potencial no que se refere a estes aspectos.

De modo geral, podemos entender o empreendedorismo cultural como a transformação de qualquer atividade cultural – seja ela no campo da música, da dança, da pintura, do design, da arte digital, do artesanato, da fotografia e tantas outras áreas – em um negócio, preferencialmente sustentável e lucrativo, capaz de gerar trabalho e renda para os empreendedores que participam e gerem o negócio em questão. O conjunto dos negócios culturais, além de fomentar o desenvolvimento social, ajuda também a fortalecer os traços/elementos culturais e históricos de um grupo social, de uma cidade, de uma região, de um país e assim por diante.

O empreendedor cultural, por sua vez, é a pessoa que tem a capacidade de identificar oportunidades de negócios nas áreas de cultura, lazer e entretenimento, bem como desenvolvê-las de modo lucrativo e sustentável. Desta forma, ele estará não apenas se aproximando e preservando seus valores e pautas culturais como também levando essa informação para um público mais amplo e, sobretudo, transformando estes elementos em fontes de trabalho e renda, movimentando toda uma cadeia produtiva que se estende muito além dos valores e aspectos culturais que estão dados inicialmente em sua atividade seja ela em que área cultural for.

No caso do Brasil, temos uma rede de apoio estatal à cultura bastante estruturada, com legislação e mecanismos capazes de valorizar e estimular as atividades culturais, o que tem permitido que o empreendedorismo cultural, como tantas outras áreas de empreendedorismo, venha se desenvolvendo bastante e atraindo novos atores sociais que se sentem incentivados a trazer seus valores e perspectivas culturais para o jogo do mercado. Volta e meia, entretanto, se vê emergir uma velha discussão: vale a pena incentivar a cultura, isso é papel do estado ou como incentivar e ao mesmo tempo garantir amplo acesso, das diferentes populações, às formas de apoio?

Pelo menos em todos os países ocidentais democráticos as atividades culturais são fortemente valorizadas e incentivadas através de legislação adequada capaz de garantir transferência de recursos para o setor, favorecendo, consequentemente, o que hoje denominamos como empreendedorismo cultural. Acredito que seja papel do estado sim proteger e incentivar atividades culturais além de contribuir para que se transformem em negócios lucrativos e sustentáveis. É claro que os atores privados devem também ser chamados a cumprir seu papel, o que, entretanto, não exime o estado de exercer seu papel no campo cultural.

Além do mais, vale lembrar que as atividades culturais são uma importante maneira da sociedade não apenas conhecer seus valores e aspectos culturais, tanto aqueles mais próximos de determinados grupos sociais como aqueles que ainda que lhes sejam mais estranhos não são menos importantes, e isto especialmente em um país diverso e complexo como o Brasil, marcado por profunda desigualdade social, o que faz com que valores e atividades culturais de determinados grupos passem quase despercebidos dos públicos mais amplos se não tiverem sua visibilidade estimulada e garantida de alguma forma especial.

Diante de tudo o que foi dito, acredito que se possa afirmar que a discussão em torno do empreendedorismo cultural nos remete não apenas a uma discussão no campo específico da cultura mas também no campo dos negócios, do mercado, do trabalho e das atividades produtivas, da geração de renda e, sobretudo, da importância das atividades culturais para a redução das desigualdades sociais, uma vez que, sobretudo através do empreendedorismo cultural, determinados valores e atividades culturais ganham maior visibilidade, garantindo a determinados sujeitos sociais maiores possibilidades de inserção social legítima e sustentável, fortalecendo assim a coesão social.

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