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Armadilhas no Processo de Escolha de Projetos

Oscar Lewandowski
Economista e Professor Universitário

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Antes de iniciar um projeto, qualquer empresário deve buscar estimar seus fluxos de caixa, além de tentar reconhecer o seu custo de capital. A identificação do custo de capital é complexa e para muitos pequenos empresários é feita de forma intuitiva, reconhecendo o custo dinheiro ou o nível de risco que está incorrendo. Estimar os fluxos de caixa futuros ocorre com frequência paralelamente a identificação do nível de risco. A identificação do próprio fluxo de caixa inicial pode, em algumas circunstâncias, ser determinada de forma imprecisa.

Imagine o seguinte exemplo: Um profissional liberal – que poderia ser um dentista, fisioterapeuta, advogado, arquiteto, etc – resolveu aproveitar uma sala comercial que já pertencia a sua família e empatar 100 mil reais em equipamentos na preparação do ambiente. Como empreendedor, quanto aos fluxos futuros, ele deve tentar reconhecer seus custos de manutenção, condomínio, limpeza, material de consumo e gasto com marketing; paralelamente estimar as receitas esperadas com clientes que ele acredita que atenderá.

Note que embora o exemplo acima seja muito simplista, ele é como funciona o processo decisório de muitos profissionais que tiveram em algum momento o espírito empreendedor. Pergunte ao seu médico: “Como foi o primeiro passo para abrir o consultório próprio?”

Mesmo sendo resumido, é importante destacar alguns aspectos no caso acima. O empreendedor tem mais controle sobre os custos do que sobre a receita. Por isto, o verbo reconhecer se refere ao que deve ser gasto; enquanto o estimar se refere ao que espera (ou deseja) receber. 

Obviamente o nível de risco irá variar conforme a atividade. Para um dentista manter uma sala idêntica dentro do mesmo prédio é diferente do que a de um arquiteto, psicólogo ou fisioterapeuta. Enquanto uns precisam de um cliente por semana para pagar o condomínio, outros precisam de um ou mais cliente por hora para justificar o espaço ocupado. Já vi situações que um elevador quebrado comprometeu um estabelecimento, enquanto os outros vizinhos não foram diretamente afetados; gerando conflito quanto a urgência do reparo. 

Outro aspecto que diz respeito ao risco trata da experiência prévia do profissional liberal. Se ele já atua no mercado há algum tempo, se antes de abrir este empreendimento já teve algo próprio ou atuou para outros profissionais, sua capacidade de assegurar uma receita mínima é maior. Outros fatores que podem diferenciar a expectativa de receita entre dois profissionais da mesma atividade se referem a localização, investimento em marketing, disponibilidade de horário etc.

Não existe uma “receita de bolo” para se chegar aos fluxos de caixas esperados confiável para uma atividade nascente. Podem ser úteis e são instrumentos normalmente usados, tomar como base: o tamanho do mercado, atendimento dos concorrentes, comparativo com regiões de renda similares entre outros. Mas destaco que algo nascente costuma ter uma sensibilidade ao preço maior do que uma atividade já estabelecida. Mesmo profissionais, que já possuem um histórico da sua atividade, reconhecem que há uma volatilidade em suas receitas independente de sazonalidade. Seja esta volatilidade causada por crises, surgimento de concorrentes ou mudanças comportamentais da clientela.

Destaco ainda que o próprio fluxo inicial pode não ser devidamente identificado. No exemplo citado acima é fácil identificar que os 100 mil reais gastos na infraestrutura fazem parte do investimento inicial. Mas como considerar o valor da sala comercial que já pertencia a sua família? Uma das práticas mais comuns é computarmos pelo valor de aquisição. Se de fato o imóvel foi adquirido “recentemente” é pertinente usá-lo; pois financeiramente falando deve-se tomar como base o valor a mercado. Ou seja, se hoje uma sala idêntica estivesse sendo negociada, por qual preço ela seria adquirida.

Mas então por que tantas pessoas ficam agarradas ao preço de aquisição, cometendo um erro clássico que os livros de finanças chamam de “sunk costs” (custos irrecuperáveis). O primeiro motivo, é por ser muito difícil ter um imóvel idêntico em termos de posição e melhorias com o preço confiável para tomar como base. O segundo motivo admite o reconhecimento de questões emocionais, conforme literatura do tema.  Note que no exemplo, foi destacado que o imóvel já pertencia a família. Logo em muitos casos foi uma sala explorada por algum antepassado (pai, tio ou avós). Em alguns casos representa as economias de algum ente da família dando o apoio para que o parente tenha seu espaço no mercado.

Em finanças comportamentais, um dos aspectos mais relevantes é o reconhecimento que muitas vezes inconscientemente, tendemos a fazer “ancoragem”, que é simplesmente atribuir um peso desproporcional a algum parâmetro do passado para uma decisão atual.

Conhecer o passado é relevante para estarmos preparados para identificar fluxos futuros e os possíveis níveis de risco que um empreendimento pode enfrentar; mas deve se tomar cuidado para não deixar de ver fatos que estão acontecendo na nossa frente no presente.

*Oscar Lewandowski.
Atualmente é professor UFRJ/FACC Curso de C. Contábeis. Tendo já lecionado no IBMEC-RJ, UNIFESO e UFF, além de atuado no Mercado Financeiro. Formação como doutor pela FGV EBAPE-RJ, mestrado IBMEC-RJ e graduado como economista na UFRJ-FEA.

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