Entrevista concedida pelo Diretor e fundador da Rebirth Consulting, Marcio Ferretti, ao PME NEWS, edição de Setembro de 2025 – Tema: “Estratégias financeiras para fortalecer as PMEs”.
PME NEWS – Quais são hoje as linhas de crédito mais acessíveis para quem tem uma pequena empresa no Brasil?
Marcio Ferretti – Hoje, as linhas de crédito mais acessíveis para pequenas empresas no Brasil são as oferecidas por bancos públicos, fintechs e cooperativas. O Pronampe, do Governo Federal, é uma das opções mais populares, com juros menores e prazos mais longos. Além disso, instituições como o BNDES oferecem financiamentos específicos para inovação, sustentabilidade ou aquisição de equipamentos. Fintechs também vêm ganhando espaço por disponibilizarem crédito de forma rápida e digital, com menos burocracia.
O segredo é entender o perfil da empresa antes de buscar crédito. Um erro comum é contratar empréstimos sem ter clareza do fluxo de caixa. Um bom planejamento ajuda a escolher a linha adequada e a usar o dinheiro de forma estratégica. Crédito é ferramenta, não solução mágica.
PME NEWS – Você pode explicar, de forma simples, o que é tokenização e como isso pode ajudar pequenas empresas a conseguir recursos?
Marcio Ferretti – Tokenização é o processo de transformar um ativo — como um imóvel, uma máquina ou até a receita futura de uma empresa — em pequenos pedaços digitais chamados tokens.
É como fatiar um bolo e vender as fatias para investidores. Isso é feito por meio da tecnologia blockchain, que garante segurança e transparência. Para pequenas empresas, pode ser uma forma moderna de captar recursos: em vez de pedir um empréstimo no banco, a empresa pode “tokenizar” parte do faturamento e oferecer aos investidores, que compram os tokens esperando retorno.
É uma inovação promissora para negócios com boa reputação e governança estruturada. Embora ainda seja um mercado em expansão no Brasil, já existem plataformas como Liqi e Vórtx que trabalham com tokenização. O acesso se torna viável com informação e apoio técnico adequado.
PME NEWS – O que muda para os pequenos negócios com a chegada das moedas digitais, como o Drex? Elas podem facilitar o acesso a crédito?
Marcio Ferretti – O Drex, moeda digital oficial do Banco Central, deve transformar a forma como o dinheiro circula e pode, sim, ajudar pequenas empresas a acessarem crédito de maneira mais rápida e segura.
Diferentemente do Pix, que é apenas uma transferência, o Drex permitirá contratos inteligentes (smart contracts), em que todo o processo pode ser automatizado — do pedido de crédito até o pagamento das parcelas.
Isso tende a reduzir a burocracia e o custo do crédito, pois aumenta a confiança nas transações. O Drex pode ser uma oportunidade para incluir mais empreendedores no sistema financeiro. Pequenos negócios que hoje enfrentam barreiras por falta de garantias poderão ter alternativas mais justas e seguras, desde que estejam organizados financeiramente. A chave é estar preparado: com estrutura, dados em dia e processos organizados.
PME NEWS – Muitos pequenos empreendedores estão usando carteiras digitais e evitando os bancos tradicionais. Essa “desbancarização” é boa para os negócios?
Marcio Ferretti – Usar carteiras digitais tem sido uma solução prática para muitos pequenos empreendedores que buscam agilidade e menores taxas.
Isso é positivo, desde que a empresa mantenha controle financeiro. A chamada “desbancarização” pode parecer libertadora, mas traz riscos: sem relacionamento com instituições formais, fica mais difícil acessar crédito, emitir notas fiscais, ter segurança nas operações bancárias e até comprovar receita.
O ideal não é abandonar os bancos, mas adotar uma estratégia híbrida: usar carteiras digitais para o dia a dia e manter uma conta formal para estruturar o negócio e acessar serviços financeiros mais robustos. O importante é manter registros e organização — algo essencial para crescer com sustentabilidade. “Desbancarizar” sem planejamento pode parecer barato hoje, mas sair caro amanhã.
PME NEWS – Além do banco, que outras formas existem para captar recursos hoje? E quais são as mais seguras para quem está começando?
Marcio Ferretti – Além dos bancos, uma pequena empresa pode captar recursos com investidores-anjo, fundos de investimento, cooperativas de crédito, plataformas de crowdfunding e até programas públicos de incentivo.
Investidores-anjo e venture capital são interessantes para quem tem um modelo de negócio escalável, enquanto o crowdfunding pode funcionar para causas ou produtos com apelo coletivo.
As cooperativas oferecem crédito com taxas menores e atendimento mais próximo. O ideal é buscar segurança antes de ousadia: evitar empréstimos caros ou vendas de participação sem compreender o impacto.
Mapear indicadores, organizar números e preparar uma boa apresentação já é meio caminho andado para atrair recursos com segurança. E nunca dispense contratos claros e assessoria adequada — é um investimento que evita grandes dores de cabeça.
PME NEWS – O que falta no Brasil para facilitar o acesso das pequenas empresas a essas novas formas de financiamento?
Marcio Ferretti – O principal desafio no Brasil é a falta de educação financeira e de estrutura mínima nas pequenas empresas.
Muitas vezes, o empreendedor mistura contas pessoais com as do negócio, não controla o fluxo de caixa e não sabe apresentar seus números. Isso afasta investidores e dificulta o acesso a crédito alternativo.
É preciso investir em qualificação, orientação e simplificação das regras. Plataformas de crédito e investimento poderiam ser mais acessíveis e intuitivas. Ao mesmo tempo, o Estado pode apoiar com garantias, incentivos e regulação clara.
O fato é que o primeiro passo pode estar dentro da própria empresa: criar governança, organizar processos e apresentar seu valor de forma transparente. Quando isso acontece, novas portas se abrem, inclusive com tecnologias como blockchain, Drex e tokenização. O problema não é apenas o acesso — é a preparação para recebê-lo.