Entrevista concedida pelo Trader e CEO da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen, ao PME NEWS, edição de Julho de 2023 – Tema: “E agora, que decisão tomar?”.
PME NEWS – Como os tomadores de decisão lidam com a incerteza e o risco?
Rodrigo Cohen – Bom, todo mundo é tomador de decisão. Quantas decisões que a gente não toma? Agora, quanto à incerteza, segundo diz o ditado, só existe uma certeza na vida: a de que algum dia a gente vai morrer. Então todo o resto é incerteza. Nossa vida, desde que a gente acorda até a hora de dormir, é uma incerteza e é uma decisão que a gente tem que tomar. É um risco que a gente assume a cada coisa que a gente faz. E aí, nesse momento, eu, que trabalho no mercado financeiro e lido com risco a todo momento e às vezes em uma fração de segundos, exposto a uma decisão muito certa ou não, recomendo para as pessoas que é preciso avaliar sempre o risco e o retorno que você vai ter em cima daquela sua decisão. Em geral, existe uma correlação entre o risco e retorno, ou seja, quanto maior o risco também pode ser maior retorno e vice-versa. E nesse momento você vai pensar, bom, eu vou assumir esse risco aqui? O que pode acontecer de bom, para mim, se der certo? E o que pode acontecer de ruim para mim, se der errado? A questão é: o bom vale a pena? O bom é muito maior do que o ruim? E se der tudo errado, como eu vou me sentir? Que decisão tomar? Se o pior acontecer eu posso quebrar? Eu posso perder muito mais do que realmente tenho disponibilidade? Se a resposta for uma resposta satisfatória, então eu posso entrar naquele trade, ou naquele negócio. E se a resposta me colocar em risco muito grande, eu não sou favorável ao all in, que é de você colocar todas as fichas na mesma aposta. Ou de colocar todos os ovos na mesma cesta. Por quê? Porque é um risco muito grande, se a cesta cair no chão, você quebra todos os seus ovos. Na minha opinião, o principal insight dessa resposta aqui é que muita gente fala para as pessoas agirem no caminho do meio sempre, ou seja, agir sempre com equilíbrio e eu acho que isso é muito importante, principalmente para as nossas decisões. Porém, quando a gente tem equilíbrio em todas as decisões e na vida inteira, em tudo que fazemos, ficamos na média. Ficamos junto com a maioria das pessoas. O problema é que nós não crescemos e assim não teremos um lugar no pódio. Então, para se ter um lugar no pódio é preciso assumir um pouco mais de risco. É preciso ir para uma das extremidades e aí sim, você terá mais chance de se sobressair em relação à maioria e, quem sabe, assumir o primeiro lugar do pódio. Que eu acho que é onde a maioria das pessoas deveria buscar.
PME NEWS – Como tomar uma decisão rápida em momentos de pressão?
Rodrigo Cohen – O livro “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, um livro marcante, principalmente para a área de negócios, o Stephen Covey foi muito feliz quando destaca sobre os quadrantes e divide, entre o importante e o urgente. E aí eu pergunto: o que devemos fazer primeiro, o que é mais urgente ou o que é mais importante? O interessante é que as pessoas tendem a colocar o mais urgente na frente, sendo que na verdade o ideal seria de colocarmos o mais importante, porque as coisas mais importantes, uma vez resolvidas, liberam uma série de outras coisas, que teoricamente seriam mais urgentes, e elas deixam de existir. Então eu acho que varia muito do perfil de pessoa para pessoa. A minha esposa, por exemplo, ela pensa e resolve rápido, meu filho mais velho também, puxou a ela. Eu não, eu sou uma pessoa mais analítica e eu penso mais, eu planejo mais. Então, o ponto aqui não é de se tomar uma decisão rápida e sim de se tomar uma decisão sob pressão, sabendo administrá-la. É óbvio que isso é muito importante, mas o principal é não deixar de tomar uma decisão e sim tomá-la e aí vai depender do comportamento, do perfil de cada líder, de cada pessoa que tem que tomar a sua decisão. E ele vai tomar uma decisão rápida, porque é uma pessoa que pensa rápido e vai conseguir, mas em muitas vezes, ela acaba sendo imediatista, ou então é uma pessoa que vai focar não no mais urgente e sim no mais importante e com isso ela vai ser um pouco mais analítica e pode demorar um pouco mais, mas que poderá resolver o problema de uma vez. É melhor ter um plano médio do que você não ter um plano. Então tome uma decisão, sabendo que poderá ser melhorada, aperfeiçoada. O importante é que ela vai ser tomada e você não vai se arrepender depois.
PME NEWS – Como as situações emocionais podem afetar na tomada de decisão?
Rodrigo Cohen – O ser humano, por si só, geneticamente, já é emotivo. E ele coloca, na maioria das vezes, a emoção na frente da razão. E tem uma frase muito boa na Programação Neurolinguística (PNL), na qual eu tenho uma formação avançada, que fala que tudo o que acontece em nossa vida, 10% é o fato e 90% é como a gente reage a ele. E aí nessa hora, você muda tudo na sua vida. Eu peguei essa frase para mim e a uso como um dos pilares da minha vida. Pois você muda tudo, você muda desde o seu negócio até o seu relacionamento no trabalho e interpessoal. Então, na minha opinião, qualquer situação emocional pode afetar positivamente a sua tomada decisão, desde que você saiba lidar com essa situação. Desde que você entenda que a situação está vindo para te testar, para fazer você crescer, evoluir e ir do nível que você está hoje, para um próximo nível. E ela vai te ajudar a ser uma pessoa ainda melhor, tomar decisões cada vez mais difíceis. Ela está te preparando para a vida. Então nesse momento você toma a melhor decisão e isso o ajudará a ser uma pessoa até mais racional, entender o quadro geral do que está acontecendo e aí sim poder usar a emoção a seu favor e não contra você, que, infelizmente, é o que a maioria das pessoas acaba fazendo.
PME NEWS – Cite alguns fatores que poderão contribuir para um líder tomar decisões assertivas junto a sua equipe?
Rodrigo Cohen – Eu acredito que todo líder deve entender que ele está nessa posição, na maioria das vezes, por merecimento. Meu pai me ensina que a gente é líder, ou por poder ou por autoridade. Por poder, é porque alguém nomeou e aí pode dar a canetada. Agora por autoridade é porque a gente conquistou aquele espaço e sabe a função de todos os liderados e sabe medir os resultados. E está lá por merecimento, por ser a pessoa mais qualificada para estar naquele lugar. Eu acredito muito que a autoridade, obviamente, é muito melhor do que o poder. É claro que o feeling é muito importante e agir de forma empírica, com toda a bagagem, com o background que ele tem, fez com que ele chegasse até esse momento. E se a decisão tem que ser do líder, ele tem o ônus e o bônus pela posição que ocupa, e que ela não é para favorecer a ele ou alguém da sua equipe. Porque se ele foi nomeado para essa posição, a empresa confia e acredita nele. Então para que o líder possa tomar as decisões mais assertivas perante a equipe, ele precisa mostrar a posição dele, mostrar que ele não está lá à toa. Ele deve servir de exemplo para toda equipe. Então agindo da forma correta, da forma assertiva, e segura, não tem como não dar certo.
PME NEWS – E para o pequeno empresário? Em muitos casos ele é o “faz tudo” da empresa, é o famoso “Euquipe”. Que dicas você dá para ele mitigar os riscos na tomada de decisão?
Rodrigo Cohen – Todo empresário no Brasil tem que ser muito criativo, ele é um guerreiro, um sobrevivente. Eu sou empresário, meu primeiro negócio eu tive aos 15 anos de idade. Foi o primeiro dinheiro que ganhei sozinho, sem precisar de ajuda de ninguém. Era um negócio baseado em internet, as pessoas se conectavam através de um modem pelo próprio computador, através de discagem telefônica. E aí se conectava no meu computador e eu cobrava um aluguel por esse serviço. Então eu tenho essa veia empreendedora. Eu acho muito legal e todos os empresários estão de parabéns. Eu já fui, em muitos anos, em diversas empresas que eu abri, o “Euquipe”. E para a gente mitigar os riscos e tomar boas decisões, eu recomendo um livro que fez uma diferença muito grande para mim e se chama: “O Caminho do artista”. Tem uma frase muito boa, se não me engano é da Brené Brown, que diz o seguinte: Quando você tiver numa dificuldade muito grande, no momento de decisão muito grande de assumir risco ou não, “Se Joga!”. Por quê? Porque em alguma hora, a rede aparece embaixo de você, para te proteger e até te alçar voos mais altos. Então, o risco faz parte do negócio e você vai ter de assumir, não tem jeito! Senão você vai ficar na sua zona de conforto e não vai prosperar. Então você não deve ter medo de assumir os riscos, preferencialmente de forma controlada.
Eu li uma entrevista com um gestor israelense de um fundo de capital de risco envolvendo uma rodada de negociações com CEOs de Startups. E ele comentou um exemplo envolvendo 2 CEOs, o primeiro, que estava em sua primeira startup e o segundo que estava em sua sétima startup e que já havia quebrado as 6 vezes anteriores. E acredite, ele optou em investir com este que quebrou seis vezes, pois a chance dele não quebrar e de prosperar é muito maior do que o CEO que estava em sua primeira startup.
Meu pai me falava que atrás de uma grande história de fracasso só existe uma história de fracasso. Agora, atrás de uma grande história de sucesso, existem várias pequenas histórias de fracasso, pois a pessoa não desistiu e a que fracassou desistiu logo na primeira vez e nunca mais tentou. Se a gente tem a convicção, tem um bom propósito, vá até o final e quanto menos perceber, você nadará e chegará lá e não vai morrer na areia, ao contrário, chegará à areia firme e forte e poderá ir rumo ao seu objetivo. E é isso que eu desejo a todos.